Ruas musicais – parte 2

Como você já está careca de saber ao ler esse blog, o Banco de Nomes era bastante culto ao escolher nomes de músicas. Nada de MPB. Apenas composições de música erudita, preferivelmente dos artistas menos populares possíveis – daí que veio nossa querida Borboletas Psicodélicas, por exemplo, além de óperas mais conhecidas:

Não dá pra ver direito mas é o Barbeiro de Sevilha, tremenda quebrada em São Lucas, fronteira com Santo André (onde passa a se chamar São José).

Não dá pra ver direito mas é o Barbeiro de Sevilha, de Rossini. A rua está numa quebrada em São Lucas (ZL), fronteira com Santo André (onde passa a se chamar São José).

Mas eis que, a partir dos anos 90, a coisa ficou mais democrática, com o advento do Jardim da Conquista, que também citei no outro post. Os moradores colecionaram tantos nomes de canções da nossa música que até sobrou para serem jogados em outras da cidade (predominantemente, na zona leste. Poucas estão fora dela). Senão vejamos:

Me dá IBAGENS, cobandante HABILTON

Me dá IBAGENS, cobandante HABILTON

Lembra do tempo em que o Datena estava na Record e o Comandante Hamilton pilotava o Águia Dourada (que até caiu tempos depois)? Pois é: lamento, mas essa travessa, do Jardim da Conquista, não tem nada a ver com ele, mas com esta música, do Roberto Carlos.

Fica no Jardim São Luís (zona sul), travessa da Carlos Caldeira Filho.

Fica no Jardim São Luís (zona sul), travessa da Carlos Caldeira Filho.

Orfeu da Conceição é aquela peça do Vinícius de Moraes, de 1954, que originou dois filmes chatíssimos: o francês, de 1959, e o nacional (com Toni Garrido). É dela que vem a clássica Se Todos Fossem Iguais a Vocêda trilha composta com a ajuda de Tom Jobim.

O que você pensa quando ouve "banquete dos signos"? Uma bandeja de gêmeos, uma salada de áries? A rua está no Jardim Tamoio, na ZL.

O que você pensa quando ouve “banquete dos signos”? Uma bandeja de gêmeos, uma salada de áries? A rua está no Jardim Tamoio, na ZL.

Não: é só uma música do Zé Ramalho, que você provavelmente já ouviu mas não sabia o nome. Zé Ramalho é um dos preferidos do banco de nomes do povão:

Eu vou te jogar num pano de guardar confetes

“Eu vou te jogar num pano de guardar confetes.  (…)Isso explica porque o sexo é assunto popular”

Chão de Giz, que também está na região de Itaquera, é uma das mais geniais do irmão da Elba: “fotografias recortadas em jornais de folhas”. Mas eu até que gosto. Mas olha só: toda vez que tem alguém tocando música (qualquer uma), você invariavelmente ouve um bêbado gritar:

TOCA RAUL

TOCA RAUL

TOCA RAUL!!!!!!

E sobra repertório do maluco beleza: 

Um dia vou achar um Corcel 73, parar aí nessa rua da Vila Jacuí (ZL) e tirar uma foto ao lado da placa.

Um dia vou achar um Corcel 73, parar aí nessa rua da Vila Jacuí (ZL) e tirar uma foto ao lado da placa.

Na regravação do Camisa de Vênus, o carro citado muda: é um Monza 1986.

Essa não é tão conhecida, mas é do Raul (e do Paulo Coelho). Fica na Vila Jacuí (Parque São Carlos para os íntimos).

Essa não é tão conhecida, mas é do Raul (e do Paulo Coelho). Fica na Vila Jacuí (Parque São Carlos para os íntimos).

Planos de Papel é uma das músicas da trilha da novela O Rebu, de 1974, composta inteiramente por Raul e Paulo Coelho. Antes de ser relançada em CD foi uma dos LPs mais raros entre colecionadores: passava dos 1000 reais. Mas no disco, não era ele quem cantava, mas sim uma marrom ainda desconhecida: Alcione. Cabô Raul? Não:

Essa rua tem "o início, o fim e o meio" - e também está no Jardim Tamoio.

Essa rua tem “o início, o fim e o meio” – e também está no Jardim Tamoio.

Gîta só não teve o primeiro clip em cores da história da TV porque o Fantástico daquele dia de 1974 tinha passado um outro de uma cantora desconhecida minutos antes… Uns bons anos depois, em 1998, seria a música de abertura da novela Bridabaseada no romance do co-autor Paulo Coelho e que foi a pá de cal da finada TV Manchete.

O vento voa e varre as velhas ruas - e a Novo Aeon não fica de fora.

O vento voa e varre as velhas ruas – e a Novo Aeon não fica de fora.

Paralela à Gita, temos a Novo Aeon, uma das mais doidas do Raulzito – e que inspirou até uma doidinha que participava de programas na MTV e virou um velho meme. E como gostam dele, porque ainda tem mais:

areiadaampulheta_raulseixas

Essa é deprê… e fica um pouco mais longe das outras, no centro da Cidade Tiradentes

E não é pra menos. Areia da Ampulheta é do penúltimo disco dele, A pedra do Gênesis, lançado em 1988, meses antes da sua morte. A própria voz dele (como você pode ouvir no link), já estava bem cansada. E, tão logo ele morreu, foi sua vez de virar rua (na verdade antes de todas essas acima):

São CINCO ruas Raul Seixas em São Paulo!

São CINCO ruas Raul Seixas em São Paulo!

Mas não se anime: a única que é reconhecida pela Prefeitura é a do Itaim Paulista. As outras são de loteamentos que resolveram escolher o nome das ruas por conta própria – e que logo o Banco terá de bolar algum não-repetido.

Raul não tem saída

A rua do Raul não tem saída

Pra fechar, que tal uma sopa pra nóis? Ou melhor, um pagodinho pra nóis da melhor qualidade? Vamo caí pra dentro então com eles, os gloriosos (ouça na voz do Faustão) garotos do:

Não é por acaso que fica no Grajaú (zona sul)

Não é por acaso que fica no Grajaú (zona sul)

É que o grupo que outrora fora liderado por Salgadinho nasceu ali, no extremo sul da cidade. A origem do nome é curiosa: Katinguelê, é, na verdade, um termo equivalente à “café-com-leite” entre os jogadores de capoeira – e é como os então jovens pagodeiros se sentiam no início da carreira. você sabia??

Calma, logo volto ao assunto músicas. Sei que você e os outros 17 leitores do blog não aguentam de ansiedade.