O Banco de Nomes é muito culto para ser fã de novelas. Mas eles nada podem fazer quando os moradores resolvem batizar as ruas da cidade com o nome de tramas da nossa telinha. Veja só:
A mais antiga é de 1970:
Verão Vermelho, de Dias Gomes, junto de sua contemporânea Véu de Noiva (de Janete Clair), foram as novelas que modernizaram a produção global, até então marcada pelos delírios da rainha louca Glória Magadan. Curiosamente, segundo a prefeitura, o nome foi “adotado pelas mulheres residentes nesta rua e presentes na assembleia”, mas é homenagem a outra novela: Sol de Verão, de 1982. Falando nela…
E, de acordo com a Prefeitura, é mesmo por causa da novela de Manoel Carlos, exibida na Globo entre 1982 e 1983. Apesar do sucesso, Sol de Verão terminou um tanto abruptamente, com a morte de Jardel Filho, que fazia o protagonista, o mecânico xucro Heitor. Sem o eixo principal, Maneco sequer teve condições de continuar sua escrita e passou a bola para Lauro César Muniz e Gianfrancesco Guarnieri, que deram um pseudo-desfecho à trama. Mas não foi a única novela que sofreu com a morte do protagonista.
E como você, leitor assíduo do blog, sabe, se é do Jardim da Conquista só pode ser de música – justamente a que foi composta por Antônio Carlos e Jocafi para o tema de abertura da novela O Primeiro Amor, de 1972. Grande sucesso de Walter Negrão, a história era protagonizada pelo boa-pinta professor Luciano, papel de Sérgio Cardoso. Quando faltavam apenas 28 capítulos para a novela acabar, Sérgio morreu, aos 47 anos. A saída global foi fazer uma plástica em Luciano, que passou a ser feito por Leonardo Villar. Já Sérgio, dizem, foi enterrado vivo, o que sua viúva negou veementemente em 1979, entrevistada pelo Fantástico.
Ainda no Jardim da Conquista, tem mais coisa:
Mas não é exatamente a novela de Carlos Lombardi, de 1984, que é a homenageada da vez. É, sim, a música do mexicano Gonzalo Curiel – que foi, justamente, o tema de abertura de Vereda Tropical, na voz de Ney Matogrosso. Vereda é, aliás, uma das campeãs em “homenagens”: só num bizu no google, acham-se centenas de restaurantes, moteis, etc, com esse nome – além de pelo menos outras cinco ruas pelo país (mas calma, já já falo disso).
Também não tem nada a ver com a novela de 1986, que ganhou remake 20 anos depois. Nem com a música de abertura da última versão, cantada pelo Leonardo. E sim com outra canção, da trilha sonora da primeira adaptação do romance de Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes, de 1953.
Tanto a travessa quanto a novela de Mário Prata, exibida em 1977, têm a ver com a versão brasileira da gringa Stupid Cupid, de Neil Sedaka, gravada em 1959 por Celly Campello (menos de um ano depois da original), que foi tema de abertura da novela.
Essa aqui foi uma encomenda feita para Tom Jobim e Chico Buarque. Era para ser o tema de abertura da minissérie Anos Dourados, de 1986 (e reprisada até semana passada no canal Viva). Realmente foi, mas só na versão instrumental de Tom. É que Chico acabou enrolando demais para escrever a letra e não deu tempo, como ele próprio explica num trecho do Chico e Caetano. Chega de Conquista:
Aqui o povo do Jardim Nazaré (Tedesco?) também pôde escolher o nome das suas ruas. Isso lá em 1992, segundo a Prefeitura. E uma das escolhidas foi um sucesso de 1987, Mandala. Inspirada na tragédia grega Édipo Rei, era protagonizada pela deusa Vera Fischer (Jocasta) e Felipe Camargo (Édipo, o filho de Jocasta). Mas mesmo sendo um texto de mais de 2 mil anos, os autores Dias Gomes e Marcílio Moraes sofreram com censura… e Vera e Felipe se casaram (e tretaram bastante). Alguns quarteirões adiante, e embarcamos num…
Claro que o brinquedo homônimo existe há séculos, mas pela época em que esta rua foi legalizada (1992), é evidente que o povo quis homenagear a novela mexicana que bombou no ano anterior, exibida pelo SBT. Cirilo, Maria Joaquina e amigos fizeram um belo estrago no Ibope da novela O Dono do Mundo, da Globo. O remake, exibido atualmente, já está na reta final.
Como foi legalizada na mesma época em que a novela de Benedito Ruy Barbosa foi ao ar pela primeira vez, em 1979, é bem possível que a Rua Cabocla tenha relações com a novela. Mas não há provas cabais do facto.
Você sabia que Kananga do Japão é uma flor? Flor que era a base de um perfume vagabundo usado pelas “primas” do Rio de Janeiro do início dos anos 30, com o mesmo nome, como explicou Dercy Gonçalves a Carlos Heitor Cony, na época em que o escritor supervisionava as novelas da Manchete. Só daí ele descobriu porque o patrão Adolpho Bloch queria produzir uma novela passada justamente naqueles anos 30 com o curioso nome de Kananga do Japão… Mas a rua é por causa da flor mesmo.
Ainda há um Vale a Pena Ver de Novo completo pela cidade mas…
… são meras coincidências. Caso de Vida Nova (uma cachoeira em Rondônia, que dá nome a duas travessas diferentes), Final Feliz (alusão ao final das obras de um mutirão no Capão Redondo), Coração de Estudante (é a música do Milton Nascimento, que sequer esteve na trilha da novela), Beleza Pura (também a música do Caetano Veloso – na abertura, cantada pelo Skank), entre outras. Isso sem falar da Vila Madalena…
Seria um ótimo final para esse post (que já está bem longo). Seria. Preciso dar uma passada em Feira de Santana, na Bahia. Mais precisamente no bairro Gabriela, que começou a ser povoado nos anos 80, de acordo com esse estudo. Lá quase TODAS as ruas têm nomes de novelas. Até hoje, muitas das ruas são sequer asfaltadas, e nem todas as ruas são seguras. Mas pelo menos não falta criatividade:
São novelas de todas as emissoras e de todos os tempos.
Chega? Não! O país é coalhado de ruas com nomes novelísticos. Roque Santeiro e Selva de Pedra são algumas das campeãs em batismos. Mas nenhuma ganhou uma homenagem tão especial quanto Que Rei Sou Eu?, de 1989. A novela, recentemente reprisada no Viva, é tema de um BAIRRO inteiro, o Bosque de Avilan, em Campo Grande (MS). Além do próprio nome Avilan (que era o reino onde a novela se passava), os personagens da trama batizam suas ruas:
Mas a criatividade não fica aí: alguns quarteirões acima, temos a vila Turma da Mônica. É mole?
Agora sim chega. Até a próxima!