Que rua é hoje? – outubro

Bem-vindos a outubro:

No Ipiranga, pertinho da Ricardo Jafet

No Ipiranga, pertinho da Ricardo Jafet.

A aprazível pracinha 1 de outubro homenageia, segundo a Prefeitura, o “dia do viajante comercial”. Talvez não seja por acaso que uma das ruas próximas à 01/10 seja justamente a…

Lá, quando dá 4:20, o povo fica todo viajandão #legalize

Lá, quando dá 4:20, o povo fica todo viajandão #legalize

Além dos viajantes comerciais (que podem ser até os de Telexfree Herbalife, dentro do Marketing Multinível™), o dia 01/10 também é o dia mundial do vegetarianismo, veja só.

Dois dias depois…

No Limão, zona norte.

No Limão, zona norte.

Essa praça, na verdade uma calçada arborizada da rua Salvador Ligabue, de acordo com a Prefeitura, homenageia o dia das eleições presidenciais. Mas, como você deve ter reparado nos últimos anos, as eleições em geral sempre têm ocorrido no primeiro domingo de outubro, que pode cair entre os dias 1 e 7. Mas, até elas serem gentilmente interrompidas pela ditadura militar, as eleições diretas presidenciais realmente tinham esta data como fixa – a partir da constituição de 1946. Então, Getúlio Vargas (em 1950), JK (em 1955), e Jânio Quadros em 1960, foram mesmo eleitos em dias 3 de outubroO dia também marca a morte de duas sumidades religiosas (pelo menos para seus devotos): o criador da umbanda Zélio de Morais (em 1975). E o fundador da bizarríssima Tradição Família e Propriedade, e, segundo certos devotos, dotado de poderes sobrenaturais, o sr. Plínio Correa de Oliveira, em 1995 – cujo túmulo, no cemitério da Consolação, até hoje atrai os tradicionais estandartes medievais da comunidade e os honrados homens de bem que dão sua vida pela luta contra o cOmUnIsMo.

No Jabaquara, zona sul

No Jabaquara, zona sul

A 5 de outubro é uma rua até grandinha no coração do Jabaquara. Mas sobre ela, a única informação que a Prefeitura dá é que foi denominada pelo decreto nº 15.784 de 04/04/1979. Prefiro considerar que o dia homenageado é o 05/10 de 1969, quando estreou o Monty Python na TV britânica. Ou ainda a proclamação da República… de Portugal, que aconteceu 21 anos depois da nossa, em 05/10/1910.

No Tatuapé, ZL

No Tatuapé, ZL

A 7 de outubro, travessa da Serra de Botucatu, “no coração do Tatuapé”não tem explicação para o nome.  Espero que não seja uma homenagem ao Manifesto de Outubro, quando os integralistas ~botaram para quebrar~ lançando seu manifesto, em 1932. Sorte que só dois anos depois, os galinhas-verdes foram literalmente postos para correr. Mas sabendo que a nossa querida cidade tem ruas como a Plínio Salgado, é capaz que tenha algo a ver com a primeira data.

Na Lapa

Na Lapa

A maior artéria da Lapa, que concentra boa parte do comércio do bairro (e o Mercado), foi uma grande fornecedora de roupas na minha primeira infância, em lojas como a Pelicano. Mas qual dos 12 de outubro que a rua homenageia? Segundo a Prefeitura, o mais antigo deles: a descoberta da América, por Cristóvão Colombo, em 12 de outubro de 1492. Mas, além disso, também é o dia de Nossa Senhora Aparecida e o das crianças, como se sabe.

Em Artur Alvim, ZL

Em Artur Alvim, ZL

Um dos caminhos para se adentrar a “comunidade” do Cambalacho (sim, o nome é por causa da novela) é a rua 14 de outubroo qual (adivinhe) a Prefeitura não sabe explicar. Hipóteses: a fundação da CNBB, em 1952, ou ainda o Nobel de Martin Luther King, em 1964, quatro anos antes da sua morte.

No Tatuapé

Na Vila Carrão, ZL

A praça 15 de outubro marca a confluência da avenida Conselheiro Carrão com as ruas ManilhaAstarté, Taubaté e a 19 de Janeiro. Baita encruzilhada, perfeita para os macumbeiros de plantão. E que, claro, homenageia aquele dia em que você fingia que era legal e dava a maçã que não fora comida na hora do lanche ao seu querido professor. A data, que só é comemorada neste dia aqui no Brasil, é uma homenagem à santa Teresa D’Ávila, padroeira dos professores – e que, por sua vez, inspirou D. Pedro I a regulamentar a abnegada profissão, no dia 15 de outubro de 1827. Dia 15 de outubro também é, acredite, o dia mundial da lavagem das mãos.

Em Interlagos, zona sul

Em Interlagos, zona sul

Na frente do shopping Interlagos, como a velha plaquetinha explicativa diz, a rua 17 de outubro homenageia o tal dia do securitárioOu seja, os corretores de seguros, vendedores de seguros, etc, etc. Merece até uma vinheta, a que eu mais gostei do Pânico em todos os 10 anos de programa:

No Jardim Maria Estela, zona sul

No Jardim Maria Estela, zona sul

Quase em São Bernardo, às margens da Anchieta, está a 18 de outubro. Segundo a Prefeitura, é porque na data se comemora o dia do médico. Para variar, os doutores ganharam o dia por causa do santo padroeiro, São LucasJá em 18 de outubro de 1968, John Lennon e Yoko Ono foram presos por porte de drogas. Maior vacilo.

Na Vila Sônia, zona oeste

Na Vila Sônia, zona oeste

Na Vila Sônia, entre as avenidas Eliseu de Almeida Francisco Morato, está a 23 de outubroque homenageia o dia do aviador. Afinal, foi no dia 23 de outubro de 1906 que Santos Dumont sobrevoou o Campo de Bagatelle, em Paris.

CapturFiles-Sep-29-2013_06.20.51

Não é por acaso que eles estão juntos, em Santana

O avião? Você conhece bem:

No meio (e embaixo) da 9 de Julho.

No meio (e embaixo) da 9 de Julho.

Nada como um dia após o outro:

No Ipiranga

No Ipiranga.

O dia 24 de outubro ser rua em São Paulo ajuda a calar um pouco a boca daqueles que dizem “ah, São Paulo é o único lugar onde não há rua com nome do Getúlio Vargas, só aqui os trabalhistas não são reconhecidos, etc etc”. Ok, além disso não ser verdade…

Ok, a rua fica em Perus, perto do nada e de lugar nenhum, mas existe

Ok, a rua fica em Perus, perto do nada e de lugar nenhum, mas existe.

… o dia 24 de outubro de 1930 marcou o fim da revolução de 1930, que enxotou Washington Luiz do poder e alçou Vargas à presidência. Os paulistas, como se sabem, não deixariam barato e logo se meteriam na ~revolução~ de 1932, que rendeu várias avenidas e ruas datadas, como a 9 de Julho e a 23 de Maio

No Tremembé, perto do Horto Florestal.

No Parque Casa de Pedra, perto do Horto Florestal.

Diz a Prefeitura que 25 de outubro é “dia da Democracia”. A origem da data não podia ser mais controversa: uns dizem que é alusiva à “”””eleição “”” de Emílio Médici à presidência, em 1969, depois da morte de Costa e Silva e da junta militar. Outros dizem que o 25/10 é o de seis anos depois, em 1975, quando o jornalista Wladimir Herzog foi “suicidado” nas dependências do DOI-Codi, fato que acelerou a “abertura” do regime militar (que, ainda assim, duraria mais 10 anos). Segundo consta, os moradores da 25 de outubro não gostavam tanto assim do nome – tanto que o então vereador (e apresentador de tv) Dárcio Arruda apresentou um abaixo-assinado dos moradores para dar o nome de um padre do bairro à 25/10. Mas não deu certo – e o tal padre até hoje não dá nome a nenhum logradouro.

outubro26

No Jardim Nazaré, quebrada da Vila Curuçá (ZL).

A travessa 26 de outubro é a “caçulinha” da lista: só foi oficializada em 2011. Mas engana-se quem pensa que há alguma explicação. O chute é o dia do músico, comemorado nesta data.

Em Heliópolis

Em Heliópolis, no Sacomã.

Segundo a Prefeitura, há duas ruas 28 de outubro: essa aí de cima, na comunidade de Heliópolis, cujo nome foi escolhido pelos moradores e deve ter alguma explicação deles, e outra, no Tatuapé, que homenagearia o dia do funcionário público. A ironia é que essa última foi privatizada: é fechada com portão nas duas pontas e, aparentemente, é um estacionamento. Tá certo então.

Na Vila Matilde, ZL.

Na Vila Matilde, ZL.

Que lindo: o dia 29 de outubro desta longa rua da ZL seria o Dia do Livro, em homenagem à data em que a Real Biblioteca Portuguesa foi trazida para o Brasil, em 1810. Neste dia, em 4004 a.C, segundo um alucinado monge do século 15, Deus teria terminado de criar o mundo. E, como você sabe, levou seis dias. Logo, começou lá no dia 23/10. Tá certo (2).

Na Capela do Socorro, zona sul.

Na Capela do Socorro, zona sul.

Para a prefeitura, o 30 de outubro desta travessa sem saída da avenida do Rio Bonito é o dia do comerciário – que, por sua vez, alude a uma grande manifestação dos comerciários por melhores condições de trabalho, no Rio de Janeiro. Só que não foi no dia 30, mas no dia 29 de outubro de 1932. Porém, ficou o 30 porque foi nesse dia que o então presidente Getúlio Vargas, para fazer uma média, aceitou as reivindicações da categoria em forma de lei, impondo rotina de oito horas diárias e descanso aos domingos. Veja só.

No Mandaqui, ZN

No Mandaqui, ZN

O dia 31 de outubro virou dia das bruxas na Inglaterra porque coincidia com o ano-novo celta, “pagão”. Vai saber se não é a origem do 31 de outubro da rua, já que a Prefeitura não sabe explicar. Outra explicação mais plausível é que o 31/10 é o dia mundial da Reforma Protestante. Ou ainda, a independência da Hungria, em 31/10 de 1918.

Acabou? Não! Ainda tem ela, a…

No Grajaú, zona sul.

No Grajaú, zona sul. 1DASUL procês.

Nossa Musa de Outubro, que vem a ser um poema de Carlos Drummond de Andrade. A quebrada do extremo sul onde fica a Musa é especialmente literária. Lá perto, além do Luar de Lágrimas (que é um poema de Cruz e Sousa), temos as ruas do Eterno e do Desfile. 

Chega. Até a próxima!

Que rua é hoje? – julho

Bem-vindo a julho, um dos meses mais prolíficos em ruas paulistanas. Vai vendo:

É comemorado também o Dia do Bombeiro.

“É comemorado também o Dia do Bombeiro.”

Se você é esperto, só de saber que a rua 2 de julho está no Ipiranga deve imaginar que tem algo a ver com a independência do Brasil. Afinal, foi lá que o grito foi dado e que de suas margens plácidas o brado retumbante tocou. Pois bem: quase um ano depois do fatídico 7 de setembro de 1822, ainda tinha uma tropa militar lusitana, anti-independência, aportada em Salvador. Pois é: tinha, pois foram expulsos pelo Visconde de Pirajá (cuja rua carioca o fez virar nome de bar paulistano) e o general Labatut (que fica bem próxima à 2 de julho no Ipiranga).

Nascida em quatro de julho

Nascida em quatro de julho

Falando em independência, já vimos tantos filmes falando do 4 de julho americano que não seria nem tão estranho imaginar que a rua de fato homenageasse o Independence Day:

Day

Ô filme ruim

Mas não. Essa ruinha de uma quebrada de Itaquera, na ZL, tem esse nome por uma razão muito mais singela, segundo a Prefeitura: “4 de julho é a data do início do mutirão para colocação e guias na Rua.”. Quer dizer, a rua é nascida em 4 de julho, portanto.

Pela mitologia celta, 5 de julho é o dia de Angus Mac Og, deus da juventude e da beleza

Pela mitologia celta, 5 de julho é o dia de Angus Mac Og, deus da juventude e da beleza

Na Vila Nair, bairro do Ipiranga entre as avenidas Nazaré e Tancredo Neves, fica a 5 de julho. A Prefeitura não sabe explicar sua origem. Como o bairro é mais antigo que o Banco de Nomes e a região gosta de uma raiz histórica para batizar as vias, meu chute é o dia da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, no dia 5 de julho de 1922, uma das primeiras revoltas militares contra a República Velha.  Dois anos depois, no mesmo 5 de julho, começava a Coluna Prestes. 

Conhece essa?

Conhece essa?

Assim como a 23 de maio que você já viu aqui, esta artéria paulistana relembra a ~Revolução constitucionalista de 1932~, iniciada justamente no dia 9 de julho daquele ano. Os jovens paulistanos de classe média alta não gostaram dos resultados da Revolução de 1930que acabou com a República Velha, e queriam desfazê-la na marra. Primeiro a turma saiu do Facebook e #foi para a rua no dia 23 de maio. Daí, no 9 de julho, os militares entraram no meio e o kissuco ferveu de vez. As tropas paulistas, ajudadas por uns perdidos de outros estados, entraram em guerra com as tropas federais. Morreu um monte de gente dos dois lados (quase todos também viraram ruas paulistanas) e os coxinhas não tiraram Getúlio do poder. O máximo que rendeu foi a constituição de 1934, mais abrangente que as anteriores – e que durou só três anos…

julho09_stamaro

Também tem 9 de julho em Santo Amaro.

julho10

Lá na Cidade Ademar, perto da Cupecê

A História sempre vai rolando e uma data importante pode virar mera página de rodapé no dia seguinte. É o caso do 10 de julho de 1832, quando foi fundado o município de Santo Amaro, cuja área correspondia a quase tudo que você chama de zona sul de São Paulo, e que voltou a ser paulistana em 1935, 102 anos depois. Segundo os arquivos da Prefeitura, a rua 10 de julho ganhou o nome na década de 1940, quando já não valia nada. A lembrança foi sugestão de Plínio Schmidt (ele mesmo já nome de rua faz tempo), funcionário da ex-prefeitura santamarense.

julho14

Lá no Bixiga, meu

Essa rua do Bixiga é em boa parte do seu leito imprensada pelo elevado da Ligação Leste-Oeste. E hoje, é conhecida pelas deliciosas fábricas de pão italiano. Não por acaso, uma das mais antigas é a padaria 14 de Julho, aberta em 1897 – ou seja, quando a rua já tinha esse nome. Fico no chute entre duas datas antigas, que não têm nada a ver entre si mas, sei lá: ou é a Revolução Francesa mesmo, em 1789, ou ainda o singelo aniversário de Campinas, fundada em 14 de julho de 1774. Conhecendo a história paulistana, essa acaba sendo a hipótese mais provável – embora a Prefeitura prefira ir de França, usando um texto colado da Wikipedia no seu Dicionário de Ruas. 

Lembro até do que eu fazia naquele dia

Lembro até do que eu fazia naquele dia

A “aquisição” mais recente desta lista é a praça Memorial 17 de Julho, inaugurada no ano passado. A referência, claro, é ao voo JJ3054 da TAM, que, no dia 17 de julho de 2007, varou a pista do aeroporto de Congonhas e dizimou um terminal de cargas da própria TAM e um posto de gasolina – cuja área hoje corresponde à própria praça. A homenagem às 199 vítimas do acidente até que virou uma praça bem agradável (e vamos torcer para que não comece a ser depredada por uma minoria de vândalos).

Segundo a Prefeitura, o 19 de julho desta rua de Pirituba seria o “dia da Caridade”. Também é a data de nascimento de várias pessoas importantíssimas  (obrigado, Wikipedia), como o tenista romeno Ilie Nastase (de 1946) e a miss Pompeia Ellen Roche (de 1979).

Na Vila Calendário

Na Vila Calendário

Essa travessa da Parada Pinto, na Cachoeirinha (zona norte) faz parte de um bairro cheio de datas. Tem a 10 de maio, a 9 de novembro… E, para cada um deles, a Prefeitura dá uma explicação diferente. Segundo eles, o dia 20 de julho é uma homenagem a Santos Dumont, nascido em 20 de julho de 1873. Além do inventor do avião, outra pessoa importantíssima nasceu num 20/07: nada mais, nada menos que Gracyanne Barbosa, de 1982. 20 de julho também é Dia do Revendedor de Posto de Gasolina (Frentista) – e também Dia do Amigo. ❤ !

25 de Julho é comemorado o Dia do Motorista.

25 de Julho é comemorado o Dia do Motorista.

É assim que a Prefeitura explica o nome dessa ruinha do Sacomã, quase na fronteira com São Caetano. Pode ser também a criação do Ministério da Saúde, em 25 de julho de 1953. Ou ainda, o dia do escritorinternacional da mulher negra, do colono, de Santiago de Compostela, etc, etc. Escolha o seu!

julho82

Os mutirão da habitação

Pra fechar, mais uma da linha lutas. Julho de 1982, na mesma região do Capão Redondo onde ficam a Maio e a Junho de 1985, é a data em que a área foi legalizada pela Prefeitura. Justo. E chega! Até o próximo post!

A Rua sobre o Bebê

Vamos viajar para um curioso bairro do extremo sul de São Paulo, a Chácara Santo Humbertus:

jusa

Sua via de acesso é a tal Rua do Juza, travessa da Sadamu Inoue. Uma tradicional atividade dali é a desova e desmanche de carros roubados.

Lá, segundo o mapa, existe a rua Diógenes dos Santos Melquisedec:

diogenez

Sem ser chamado BravinhaCachoeira do Pinguelo ou CornucópiaDiógenes é, sem dúvida, um dos batismos mais absurdos de todas as ruas de São Paulo. Aí você me pergunta, por que?

Porque, segundo os registros oficiais da Prefeitura,

Porque, segundo os registros oficiais da Prefeitura, Diógenes era um BEBÊ, que “faleceu no dia 29 de setembro de 1975, com 4 (quatro) meses de idade.”

O decreto que nomeou as ruas do Chácara Santo Humbertus, em 1988, não explica os motivos deste batismo, nem quem seriam, talvez, os pais tão enlutados do pobre infante – que, claro, não é esse da foto aí de cima, mas também está morto.

Eu fiz questão de ir ao Arquivo Histórico da cidade (na Luz) para conferir a fichinha física com a pequena biografia de Diógenes, que hoje teria 40 anos. E é a mesma descrita na legenda da foto, retirada do Dicionário de Ruas. Pelo menos deu para ter certeza de que ninguém tinha digitado errado a idade do Diógenes.

Mas queria chegar lá no condomínio para conferir a placa da sua rua. Depois de muitos solavancos, cheguei ao decadente Chácara Santo Humbertus. Se hoje ainda é uma tristeza para chegar, antigamente era pior. Os prints abaixo são da mesma página do Estadão de 01 de julho de 1994. Mais de 20 anos depois, garanto, continua igual:

semluz

reclamasam

A estrada do Jusa nunca foi alargada. A guarita chegou, mas é praticamente cenográfica. E o mesmo sr.Elard Biskamp entrevistado pelo jornal continuava reclamando muito no twitter (pelas mesmas coisas) em 2010.

Na cabine, as teias de aranha garantem a segurança.

Na cabine, as teias de aranha garantem a segurança.

Mas você reparou numa coisa da segunda nota do jornal? Eles citam várias ruas do bairro, como a Maurício Klein…

"Industriário, Maurício Klein, nasceu em 01 de agosto de 1977 na cidade de São Paulo, e faleceu com 18 anos de idade - cedo, mas não tanto quanto Diógenes"

“Industriário, Maurício Klein nasceu na cidade de São Paulo. Faleceu com 18 anos de idade em 01 de agosto de 1977” – cedo, mas não tanto quanto Diógenes.

… mas não citam a Diógenes dos Santos Melquisedec. O motivo, descobriria logo:

isto é a rua Diógenes dos Santos Melquisedec

Isto é a rua Diógenes dos Santos Melquisedec na esquina com a Maurício Klein..

É: a rua foi apenas projetada: nunca existiu de fato – embora seu início seja um “hiato” de árvores no meio do bosque. Talvez quando o loteamento tivesse sido aberto, seu leito, por onde passa até um lago, até existisse (e, talvez, houvesse até uma placa com o nome do bebezinho pendurada em alguma das árvores). Como meu carro não é um Land Rover, e já tinha chovido naquele dia, não quis arriscar.

Tudo isso para dar um gancho para um futuro post, sobre as ruas projetadas. Aquelas que existem apenas nos mapas e não na vida real – diferente de várias ruas da cidade que levam este nome:

Projetada Violenta

Projetada Violenta

Mas isso é para outra vez. Enquanto isso, veja que não há idade para virar rua, caso desta pequena travessa da avenida Mutinga, na Vila Jaguara (zona noroeste):

"Carolina Cabrera de França, faleceu em 04 de agosto de 1991. Era filha de tradicional família da Vila Piauí, que muito contribui para o progresso desse bairro. A doença de Carolina mobilizou a Sociedade Amigos Unidos de Vila Piauí e seus moradores no intuito de recuperar a saúde de uma criança de 9 anos, que queria muito viver." - é o que diz a prefeitura.

“Carolina Cabrera de França faleceu em 04 de agosto de 1991. Era filha de tradicional família da Vila Piauí, que muito contribui para o progresso desse bairro. A doença de Carolina mobilizou a Sociedade Amigos Unidos de Vila Piauí e seus moradores no intuito de recuperar a saúde de uma criança de 9 anos, que queria muito viver.” – é o que diz a prefeitura.

Às vezes, a tragédia se abate sobre a família ao mesmo tempo, caso dos Giunchetti Rosin na manhã do dia 5 de julho de 1966, mais precisamente na estrada entre Suzano e Ribeirão Pires. Os dois irmãos estavam num carro…

Diógenes era o caçula, tinha 16 anos. É uma travessa da avenida Imirim, na Casa Verde.

Diógenes era o caçula, tinha 16 anos. É uma travessa da avenida Imirim, na Casa Verde.

Dráusio era o mais velho, com 23. Também fica na Casa Verde, mas um pouco longe do irmão.

Dráusio era o mais velho, com 23. Também fica na Casa Verde, mas um pouco longe do irmão.

… e morreram num grave acidente – o que fez com que a mãe deles passasse a escrever uma série de livros espíritas depois de seu desencarne. Diógenes e Dráusio logo arranjaram amizades no outro mundo, pelo menos de acordo com as psicografias de Chico Xavier. Uma delas é a estudante Volquimar, morta no incêndio do edifício Joelma, em 1974. Ela cita os dois em algumas das cartas que mandou do nosso lar.

Viagem, não? E eles não são os únicos, não: logo vai dar para voltar a todos esses assuntos – além das ruas projetadas, também há muitos jovens espíritas (tanto médiuns quanto almas) na original toponímia paulistana.

Que rua é hoje? – abril

E não é que chegamos no mês de abril? E como já se tornou tradição, é hora de “comemorar” as ruas do mês:

É verdade! A travessa fica no Morro da Esperança, quebrada da Cachoeirinha (zona norte).

É verdade! A travessa fica no Morro da Esperança, quebrada da Cachoeirinha (zona norte).

A Prefeitura não sabe explicar porque a travessa tem o nome do tradicional dia da mentira, que tem origem controversa. Uns dizem que surgiu na França, em 1564, quando o atual calendário gregoriano foi adotado. Daí quem ainda usava o calendário antigo, com o ano começando em abril, era sacaneado sem dó. No Brasil, o registro mais antigo de zueiras de primeiro de abril foi em 1828, quando um jornal apócrifo divulgou a morte de D. Pedro I, que só aconteceria anos depois. Embora hoje a gente nem leve tão a sério essa “tradição”, lá fora amam. Diversos jornais e sites divulgam notícias absurdas, que volta e meia os brasileiros desavisados compram. Vide o clássico boimateque seria uma “fusão de células de boi com células de tomate, perfeita para a produção de bifes à parmegiana”, que a revista Veja divulgou com gosto em 1983. Por muito tempo foi uma das maiores gafes da imprensa brasileira, só superado por um jornalista (precocemente falecido) que enforcou Jesus. Bom, mas voltando ao tema original, é bem possível que a travessa tenha esse nome por causa da data de oficialização do loteamento, o que é comum em várias quebradas da cidade.

Uma das mais antigas ruas de São Paulo, no centro, nem sempre teve esse nome

Uma das mais antigas ruas de São Paulo, no centro, nem sempre teve esse nome

A origem da Sete de Abril remonta ao longínquo final do século 18, quando o governador Conde de Sarzedas (que hoje dá nome a “25 de março dos crentes”), mandou botar calçamento e melhorar o acesso à todas as ruas de São Paulo (que então se resumia apenas ao atual centro). Entre as obras, estava uma pequena ponte sobre o Anhangabaú, mais ou menos onde está a atual Ladeira da Memória. A continuação da ponte, no lado antigo, ganhou o nome de estrada para a Cidade Nova, embora o povão preferisse chamá-la de Rua da Palha, já que o telhado das casas era feito desse material. No século 19, segundo os alfarrábios paulistanos, essas casinhas abrigavam as repúblicas onde viviam os estudantes da faculdade de Direito, não muito distante. Em maio de 1831, um vereador sugeriu que alguma rua passasse a ter o nome de Sete de Abril, em homenagem a abdicação de D. Pedro I, no mês anterior. Mas ele queria dar esse nome à então rua do Rosário (atual 15 de Novembro). Já que não deu, o nome foi parar na pontezinha sobre o rio. Anos depois, em 1865, era a vez do Largo dos Curros ganhar o nome de Sete de Abril. Só em 1873 que a nomenclatura passaria à então Palha, que afinal, já levava ao velho Curros – que nada mais é que a atual Praça da República.

Você não vê direito mas é a 13 de Abril, no Capão Redondo, zona sul.

Você não vê direito mas é a 13 de Abril, no Capão Redondo, zona sul.

Para compensar a verborragia das duas ruas anteriores, da 13 de Abril, no Capão Redondo, não tem muito o que falar. A Prefeitura só diz “pesquisa em andamento”. Muito provavelmente também tem a ver com a legalização do loteamento em que se encontra, já que é paralela com a rua “Consciência Popular” e faz esquina com a “Pró-Moradia Zona Sul”. De quebra, termina na “União dos Movimentos”, esquina com a “Unidos Venceremos”. Além disso, 13 de abril também é aniversário do ex-jogador de futebol Beto Fuscão (de 1950), e dia “do hino nacional brasileiro”, dia “da carta régia”, dos jovens” e, de quebra, é o ano-novo tailandês. Para eles, no próximo dia 13 chegaremos ao ano 2551.

Para a Prefeitura, 14 de abril é o "dia pan-americano". A rua está na Cidade Ademar.

Para a Prefeitura, 14 de abril é o “dia pan-americano”. A rua está na Cidade Ademar.

Segundo a Wikipedia, é verdade: 14 de abril é mesmo o “dia pan-americano”, seja lá o que isso for. Além disso, é “dia mundial do café” e aniversário de Catanduva, a capital nacional dos ventiladores. Além disso, no dia 14 de abril de 1977, nasceram pessoas muito importantes para nossa vida, como os jogadores de futebol Erjon Bogdani (o maior jogador albanês de todos os tempos!!!), Cristiano Zanetti, Mugurel Buga, além da eterna Buffy Sarah Michelle Gellar (obrigado, Wikipedia).

Sim, é uma homenagem a Tiradentes. Como vocês perceberam? A rua, quase não preciso dizer, fica no Bom Retiro.

Sim, é uma homenagem a Tiradentes. Como vocês perceberam? A rua, quase não preciso dizer, fica no Bom Retiro.

Além de “comemorarmos” o nosso mártir Tiradentes, enforcado em 21 de abril de 1792, cuja história é bem mais controversa do que aprendemos na escola, o dia também tem outras efemérides importantes. Uma delas é a estreia do Jornal Hoje, em 1971, mesmo dia em que empacotava o temível Papa Doc, ditador haitiano. Em 1985, seria a vez de outro “””mártir””” brasileiro morrer: Tancredo Neves (embora haja quem diga que ele já estava morto ao “posar” com os médicos nesta foto, tirada dias antes)…

Aqui, como dizem os PMs, "sem novidade". Também é, obviamente, uma alusão ao dia do "descobrimento" do Brasil

Aqui, como dizem os PMs, “sem novidade”. Também é, obviamente, uma alusão ao dia do “descobrimento” do Brasil. A rua está em Itaquera, zona leste – e o nome foi dado pelo Bancoque ainda não tinha dado as caras por aqui.

Naquele dia de 1500, Pedro Álvaro Escabral, como uma vez escreveu uma colega de escola décadas atrás, avistou o Monte Pascoal, na Terra de Santa Cruz. Nem queria chegar aqui: a ideia era achar as tais Índias. Além disso, o 22 de Abril é “niver” dos atores Jack Nicholson (de 1937), Sérgio Mamberti (de 1939), além de ser o dia da grande mãe babilônica Ishtar

A primeira missa do Brasil é lembrada até hoje, nesta rua da Penha (ZL).

A primeira missa do Brasil é lembrada até hoje, nesta rua da Penha (ZL).

Quatro dias depois do Pedrão ter pisado aqui, o frei Henrique de Coimbra pegou sua batina e fez o que mais sabia fazer: rezou uma missa, a primeira em solo brasileiro. Legal, né? Só para a turma dos lusitanos, porque certamente ainda não tinha dado tempo de estuprar, escravizar, matar, digo, converter os índios que por aqui estavam. 465 anos depois, outra data importante para o Brasil, boa para alguns e ruim para outros: a inauguração da Rede Globo (na Argentina, conhecida como Red O’Globo”, como se houvesse alguma ascendência irlandesa entre os Marinhos).

Flor de Abril é uma árvore, na verdade - e a rua está na Cachoeirinha, zona norte.

Só no “bananão” acontecem essas coisas: Flor de Abril é uma árvore,! A rua está na Cachoeirinha, zona norte.

Além das datas em si (a prefeitura também acusa as ruas 9 e 29 de Abril, que, no entanto, não aparecem em mapa algum), este mês também batiza as mais diversas coisas: de editora até bairro, como o Jardim d’Abril, que se divide entre São Paulo e Osasco – embora a maior parte esteja nesta última. A Flor de Abril (também conhecida por Maçã-de-elefante), por sua vez, é mais um dos milhares de batismos botânicos dados pelo Banco de Nomes – predominantemente na Zona Leste (falarei disso mais adiante).

Bartolomeu Abril era um pintor espanhol do século XVI, conhecido como "El Barto", no Tatuapé (ZL).

Bartolomeu Abril era um pintor espanhol do século XVI, conhecido como “El Barto“, no Tatuapé (ZL).

Pelo irrelevante currículo (e época antiga), você percebeu que é um nome do Banco. Já outras pessoas “d’Abril” sequer têm biografia, como Domitilia e Serafina (em São Miguel), e o casal Vitantônio e Maria Teresinha (na Cidade Ademar). Muito provavelmente eram loteadores dos bairros, já que as duas duplas estão bem perto. Para fechar, ainda tem o mais antigo de todos, também obra do Banco: 

Fica lá no Jardim Irene, terra do Cafu

Fica lá no Jardim Irene, zona sul – a terra do Cafu

O tal Abril , na verdade Dom Abril Peres de Lumiares, segundo este link, era neto bastardo do rei lusitano Dom Afonso Henriques, e um dos principais inimigos de outro rei, Dom Sancho III. Abril queria porque queria, lá para 1200 e pouquinho, tomar para si o atual concelho (algo como um distrito, em Portugal) de Touça. Ele até conseguiu mas acabou morrendo em 1242. Daí, uns 736 anos depois, seu nome saiu das trevas do esquecimento para virar o nome de uma rua paulistana. Claro, culpa do Banco de Nomes.

Chega, né? Semana que vem volto com outro assunto.

Ruas astronômicas – parte 1 de 2

Pense em algo grande. Já pensou? Certamente jamais será tão grande quanto o universo, do qual somos apenas uma merdinha de um pálido ponto azul. Bilhões de estrelas, planetas, asteroides, poeira, cometas, etc – que comportam diversas teorias sobre sua criação, como a do Big Bang ou ainda certas lendas que tem gente que jura de pés juntos que são sérias.

Boa parte dos especialistas, aliás, ainda crê que o universo esteja se expandindo. Exatamente como a malha viária paulistana, que pegou vários nomes astronômicos. A começar pelo próprio universo:

Na Vila Formosa, perto da avenida Eduardo Cotching.

Na Vila Formosa, perto da avenida Eduardo Cotching.

Vamos fechar mais um pouco, quem sabe naquela estrela que nos dá a vida:

Na Cidade Satélite, em São Mateus

Na Cidade Satélite, em São Mateus

Não é por acaso que esta quebradíssima da ZL se chama Cidade Satélite, como você verá. Em torno da Sol, gravitam constelações…

Não são exatamente os signos do horóscopo

Os nativos de Gêmeos possuem habilidade manual, o que pode torná-los hábeis prestigitadores (mágicos ou ladrões!)

… estrelas …

castor

Fica lá em Gêmeos. O nome não vem do bichinho comedor de madeira, mas da mitologia mesmo. Castor, junto com Pólux (também rua) são os tais “gêmeos”.

galáxias…

andromeda

Você talvez lembre dos Cavaleiros do Zodíaco, mas eu era a única criança da sala que não assistia.

outros tipos de astros…

De uma nebulosa acabam aparecendo planetas, estrelas, etc

De uma nebulosa acabam aparecendo planetas, estrelas, etc

e até um certo praneta azul e seu satélite.

A Lua é maior que a Terra, pelo menos na Cidade Satélite: são 5 quadras contra apenas 1 da Terra.

A Lua é maior que a Terra, pelo menos na Cidade Satélite: são cinco quadras contra apenas uma da Terra – que nem tem uma plaquinha nítida para colocar aqui.

Planetas mesmo, além da Terra, só há outros dois:netuno

ou melhor, um, já que esse aí não é mais:

plutão

Só “Plutão “era nos áureos tempos. Hoje é só “134340 Plutão“, apenas um dos objetos do Cinturão de Kuiper. Fuén.

É que o resto do sistema solar está bem longe. Na Aclimação, perto da Vergueiro, estão os gigantes gasosos:

jupiter saturno urano

Os outros telúricos (nada a ver com a Baby da época que andava com o homem do rá) se espalham por aí. No centro, ao lado do Mercadão, está ele, o

... cujo deus grego é o padroeiro do jornalismo, como muito ouvi de um professor "prata da casa" da PUC...

… cujo deus grego é o “padroeiro” do jornalismo, como muito ouvi de um professor “prata da casa” da PUC…

na ZL, na Vila Formosa, não muito longe da praça Universo, está a irmã gêmea da Terra. Ele mesmo:

Terra é a Ruthinha e Vênus é a Raquel: afinal, só o tamanho é igual, porque Vênus é pior que o inferno

Terra é a Ruthinha e Vênus é a Raquel: afinal, só o tamanho é igual, porque Vênus é pior que o inferno

Só faltou um:

O Planeta Vermelho fica atrás do shopping Eldorado.

O Planeta Vermelho fica atrás do shopping Eldorado.

Mas faltou falar do verdadeiro mato do sistema solar (e provavelmente dos outros sistemas planetários que vêm sendo descobertos): os satélites…

satelite

Não por acaso, a via central da Cidade Satélite.

 Saturno tem, conhecidos, 61. Júpiter tem dois a mais: 63. Em ambos, os nomes também vêm da mitologia. A única exceção são os de Urano: os (até agora) 27 pedregulhos que o orbitam têm nomes de personagens de peças de teatro dos britânicos William William Shakespeare e Alexander Pope. E eles estão espalhados pela cidade. Alguns estão lá no limite entre Parelheiros e Grajaú, no extremo sul. O bairro é o Jardim Casa Grande. E, na falta de placas oficiais, o povo pixou o nome das ruas nas paredes, olha só:

O povo tem de se virar, já que a Prefeitura não pôs placa na rua. Ariel orbita Urano, e "homenageia" um personagem de Alexander Pope.

Ariel orbita Urano, e “homenageia” um personagem de Alexander Pope. Ele gira meio torto, e só o seu pólo sul fica virado para o Sol.

Na mitologia, Dione (ou Dionéia) era filha de Urano - mas é satélite de Saturno.

Na mitologia, Dione (ou Dionéia) era filha de Urano – mas é satélite de Saturno.

Completando o kit planetário do Casa Grande, ainda tem FebeJanus e Japetus, de Saturno, e o jupiteriano Europa, que, dizem, tem até um oceano congelado. Mas você ainda leva umas constelações de brinde, logo abaixo, margeando o início da (imensa) avenida Paulo Guilguer Reimberg:

Pequena e pouco visível, a do Corvo

Pequena e pouco visível, a do Corvo

constelacaodoesquadro

Também conhecida como Norma.

Rodando pela cidade, achamos o amiguinho de Plutão perdido no City América, na zona norte. Mas, provavelmente, o Caronte em questão é o barqueiro que levava os mortos para o mundo inferior, liderado por Plutão, na mitologia romana.

É quase do próprio tamanho de Plutão

É quase do mesmo tamanho de Plutão

De volta ao Jardim Satélite, temos o quê? Satélites, claro:

Esse é o maior de Netuno. Por muito tempo achou-se que era o único.

Esse é o maior de Netuno. Por muito tempo achou-se que Tritão era o único.

de Urano também tem de montão:

Olha o Ariel aí de novo! Mas agora tem amigos:

Olha o Ariel aí de novo!
Mas agora tem amigos:

oberon

Oberon foi uma das primeiras a serem descobertas, ainda no século 19, é um personagem de Sonho de uma noite de verãode Shakespeare.

titania

Também foi descoberta no século 19 e é uma personagem da mesma Sonho de uma noite de verão.

umbriel

Umbriel vem do mesmo texto de Ariel, e não é por acaso que ganhou esse nome. “Umbriel” é a irmã escura, como o satélite, que reflete apenas uma pequena fração da luz solar que recebe.

De Saturno temos um dos mais importantes satélites do sistema solar. Uns dizem que parece com a Terra do passado. Outros, que poderá ser nosso refúgio quando a Terra for pro saco (e nós já teremos ido faz tempo, não é?)

Titã é maior que a Lua e que Mercúrio. E tem algo que esses dois não têm: atmosfera.

Titã é maior que a Lua e que Mercúrio. E tem algo que esses dois não têm: atmosfera.

Até mesmo as duas pedras que giram em volta de Marte são lembradas no Satélite:

Deimos é o menor satélite do sistema solar. Tem apenas 6,2 km de comprimento: meno

Deimos é o menor satélite do sistema solar. Tem apenas 6,2 km de comprimento: menos que a própria rua Deimos tem de extensão. Visto do céu de Marte, confunde-se com uma estrela.

Fobos (as ruas têm as grafias antigas) está caindo 1,8 m por século. Daqui a uns 50 milhões de anos, provavelmente, vai se esfacelar contra a superfície marciana. Quem viver, verá

Fobos (as ruas têm as grafias antigas) está caindo 1,8 m por século. Daqui a uns 50 milhões de anos, provavelmente, vai se esfacelar contra a superfície marciana. Quem viver, verá.

Ainda tem mais satélites orbitando por aí – o que faria esse post, já longo, interminável. Semana que vem (prometo) falo das pessoas ligadas ao espaço que foram parar nas ruas paulistanas.

 

 

 

 

Ruas noveleiras

Banco de Nomes é muito culto para ser fã de novelas. Mas eles nada podem fazer quando os moradores resolvem batizar as ruas da cidade com o nome de tramas da nossa telinha. Veja só:

A mais antiga é de 1970:

A rua fica no Jaraguá, zona noroeste.

A rua fica no Jaraguá, zona noroeste.

Verão Vermelhode Dias Gomes, junto de sua contemporânea Véu de Noiva (de Janete Clair), foram as novelas que modernizaram a produção global, até então marcada pelos delírios da rainha louca Glória Magadan. Curiosamente, segundo a prefeitura, o nome foi “adotado pelas mulheres residentes nesta rua e presentes na assembleia”, mas é homenagem a outra novela: Sol de Verãode 1982. Falando nela…

Fica no Lajeado, lá no extremo da ZL.

Fica no Lajeado, lá no extremo da ZL.

E, de acordo com a Prefeitura, é mesmo por causa da novela de Manoel Carlos, exibida na Globo entre 1982 e 1983. Apesar do sucesso, Sol de Verão terminou um tanto abruptamente, com a morte de Jardel Filho, que fazia o protagonista, o mecânico xucro Heitor. Sem o eixo principal, Maneco sequer teve condições de continuar sua escrita e passou a bola para Lauro César Muniz e Gianfrancesco Guarnieri, que deram um pseudo-desfecho à trama. Mas não foi a única novela que sofreu com a morte do protagonista.

Tá difícil de ver mas é Primeiro Amor. A travessa é mais uma do Jardim da Conquista, do qual já falei antes por aqui.

Tá difícil de ver mas é Primeiro Amor. A travessa é mais uma do Jardim da Conquista.

E como você, leitor assíduo do blog, sabe, se é do Jardim da Conquista só pode ser de música – justamente a que foi composta por Antônio Carlos e Jocafi para o tema de abertura da novela O Primeiro Amorde 1972. Grande sucesso de Walter Negrão, a história era protagonizada pelo boa-pinta professor Luciano, papel de Sérgio Cardoso. Quando faltavam apenas 28 capítulos para a novela acabar, Sérgio morreu, aos 47 anos. A saída global foi fazer uma plástica em Luciano, que passou a ser feito por Leonardo Villar. Já Sérgio, dizem, foi enterrado vivo, o que sua viúva negou veementemente em 1979, entrevistada pelo Fantástico.

Ainda no Jardim da Conquista, tem mais coisa:

A música é bem mais antiga que a novela.

Mas não é exatamente a novela de Carlos Lombardi, de 1984, que é a homenageada da vez. É, sim, a música do mexicano Gonzalo Curiel – que foi, justamente, o tema de abertura de Vereda Tropicalna voz de Ney Matogrosso. Vereda é, aliás, uma das campeãs em “homenagens”: só num bizu no google, acham-se centenas de restaurantes, moteis, etc, com esse nome – além de pelo menos outras cinco ruas pelo país (mas calma, já já falo disso).

sinhamoca

Também não tem nada a ver com a novela de 1986, que ganhou remake 20 anos depois. Nem com a música de abertura da última versão, cantada pelo Leonardo. E sim com outra canção, da trilha sonora da primeira adaptação do romance de Maria Camila Dezonne Pacheco Fernandes, de 1953.

estupidocupido

Tanto a travessa quanto a novela de Mário Prata, exibida em 1977, têm a ver com a versão brasileira da gringa Stupid Cupidde Neil Sedaka, gravada em 1959 por Celly Campello (menos de um ano depois da original), que foi tema de abertura da novela.

anosdourados_jardimdaconquista

Essa aqui foi uma encomenda feita para Tom Jobim e Chico Buarque. Era para ser o tema de abertura da minissérie Anos Douradosde 1986 (e reprisada até semana passada no canal Viva). Realmente foi, mas só na versão instrumental de Tom. É que Chico acabou enrolando demais para escrever a letra e não deu tempo, como ele próprio explica num trecho do Chico e CaetanoChega de Conquista:

Fica no Jardim Nazaré, na Vila Curuçá (ZL)

Fica no Jardim Nazaré, na Vila Curuçá (ZL)

Aqui o povo do Jardim Nazaré (Tedesco?também pôde escolher o nome das suas ruas. Isso lá em 1992, segundo a Prefeitura. E uma das escolhidas foi um sucesso de 1987, Mandala. Inspirada na tragédia grega Édipo Rei, era protagonizada pela deusa Vera Fischer (Jocasta) e Felipe Camargo (Édipo, o filho de Jocasta). Mas mesmo sendo um texto de mais de 2 mil anos, os autores Dias Gomes e Marcílio Moraes sofreram com censura… e Vera e Felipe se casaram (e tretaram bastante). Alguns quarteirões adiante, e embarcamos num…

As mexicanas também têm vez, ora essa

As mexicanas também têm vez, ora essa

Claro que o brinquedo homônimo existe há séculos, mas pela época em que esta rua foi legalizada (1992), é evidente que o povo quis homenagear a novela mexicana que bombou no ano anterior, exibida pelo SBT. Cirilo, Maria Joaquina e amigos fizeram um belo estrago no Ibope da novela O Dono do Mundoda Globo. O remake, exibido atualmente, já está na reta final.

A rua fica em Cangaíba, na ZL

A rua fica em Cangaíba, na ZL

Como foi legalizada na mesma época em que a novela de Benedito Ruy Barbosa foi ao ar pela primeira vez, em 1979, é bem possível que a Rua Cabocla tenha relações com a novela. Mas não há provas cabais do facto.

Essa está em Itaquera, perto do Itaquerão

Essa está em Itaquera, perto do Itaquerão

Você sabia que Kananga do Japão é uma flor? Flor que era a base de um perfume vagabundo usado pelas “primas” do Rio de Janeiro do início dos anos 30, com o mesmo nome, como explicou Dercy Gonçalves a Carlos Heitor Cony, na época em que o escritor supervisionava as novelas da Manchete. Só daí ele descobriu porque o patrão Adolpho Bloch queria produzir uma novela passada justamente naqueles anos 30 com o curioso nome de Kananga do Japão… Mas a rua é por causa da flor mesmo.

OI OI OI

OI OI OI

Ainda há um Vale a Pena Ver de Novo completo pela cidade mas…

CapturFiles-May-13-2013_12.25.46

… são meras coincidências. Caso de Vida Nova (uma cachoeira em Rondônia, que dá nome a duas travessas diferentes), Final Feliz (alusão ao final das obras de um mutirão no Capão Redondo), Coração de Estudante (é a música do Milton Nascimento, que sequer esteve na trilha da novela), Beleza Pura (também a música do Caetano Veloso – na abertura, cantada pelo Skank), entre outras. Isso sem falar da Vila Madalena

Seria um ótimo final para esse post (que já está bem longo). Seria. Preciso dar uma passada em Feira de Santana, na Bahia. Mais precisamente no bairro Gabrielaque começou a ser povoado nos anos 80, de acordo com esse estudo.  Lá quase TODAS as ruas têm nomes de novelas. Até hoje, muitas das ruas são sequer asfaltadas, e nem todas as ruas são seguras. Mas pelo menos não falta criatividade:

O bairro começou nos anos 70

… até os clássicos, como Irmãos Coragem…

supermanuela

E nem as obscuras ficam de fora: essa é de 1974, protagonizada por Marília Pêra.

valetudo

O que Odete Roitman diria disso?

São novelas de todas as emissoras e de todos os tempos.

Os Imigrantes e Ninho de Serpente são da Band

Os Imigrantes e Ninho da Serpente são da Band, do mesmo 1982 de Sétimo SentidoJá Anjo de Mim é de 1996.

Chega? Não! O país é coalhado de ruas com nomes novelísticos. Roque Santeiro Selva de Pedra são algumas das campeãs em batismos. Mas nenhuma ganhou uma homenagem tão especial quanto Que Rei Sou Eu?de 1989. A novela, recentemente reprisada no Viva, é tema de um BAIRRO inteiro, o Bosque de Avilanem Campo Grande (MS). Além do próprio nome Avilan (que era o reino onde a novela se passava), os personagens da trama batizam suas ruas:

veroni

Bergeron era Daniel Filho; Juliette, Cláudia Abreu; e Suzanne, Natália do Valle. Já Veronique está perdida aí. As três ruas vão dar na avenida Doutor Jivago.

Mas a criatividade não fica aí: alguns quarteirões acima, temos a vila Turma da Mônica. É mole?

Tem que provar com o print, mas no Google Maps não aparecem. Use o Geoportal.

Absurdos assim têm de ser provados com o print, senão você não acredita. Mas no Google Maps não aparecem. Use o Geoportal.

Agora sim chega. Até a próxima!

Ruas estranhas, apenas – 2

Hoje é dia de falar de mais ruas estranhas que, de tão estranhas que são, mal cabem em algum critério. Por isso inventei um: as ruas “das” coisas. Tem cada uma… Claro, aqui não vou falar de “rua das amoreiras”, “dos pinheiros” (embora nessa não tenha nenhum pinheiro plantado), etc, que a ideia já tá meio que na cara. Mas vamos lá:

I <3 TATUAPÉ S2 S2 S2

I ❤ TATUAPÉ S2 S2 S2 S2 S2

Essa ruela, travessa da rua Emílio Mallet, foi aberta nos anos 60 e foi chamada de “rua da Amizade”. Em 1990, mesma época em que a Prefeitura fez um novo levantamento de ruas repetidas ou mal-batizadas (de onde vieram as Borboletas, lembra?), ela ganhou o nome de Campeadores (que, assim como as Butterflies,  também é uma obscura obra de música erudita). Mas veja só: mesmo com o nome até “normal” o pessoal tatuapense botou os campeadores pra correr! Daí, como já existe uma travessa da Amizade no Jaçanã, resolveram o problema botando o aposto “do tatuapé”. E os campeadores?

achoooou!!!

achoooou!!!

Eles foram exilados na Vila Emília, bairro do Sacomã (zona sul). Fazendo esquina, fica a Cantiga Ingênua, outra obscurantíssima peça para piano de uma certa Adelaide Pereira da Silva.

Contrariando o que diz Galvão Bueno, a Curva é Curva mesmo, não é reta

Contrariando o que diz Galvão Bueno, a Curva é Curva mesmo, não é reta

Essa ruinha, na Vila Guilherme (ZN), tem um grande atrativo:

A curva da rua curva é mais curva que a curva da rua reta (Paulo Leminski)

A curva da rua curva é mais curva que a curva da rua reta (Paulo Leminski)

Sim, uma curva. E ponto final. Nem o Dicionário sabe explicar, mas é um alento saber que a rua curva é curva (em U, para ser mais exato).

Fica na Casa Verde (zona norte).

Fica na Casa Verde (zona norte).

E a rua da Divisa? Pode botar no mapa: ela não divide nada com lugar nenhum, pelo menos nos dias de hoje. O Dicionário também não tem explicação. Alguém sabe? Mistério…’

"Olha, quem entra aqui nessa rua é no mínimo um imbecil, mal-educado. Olha, sai daqui, tá?"

“Olha, quem entra aqui nessa rua é no mínimo um imbecil, mal-educado. Olha, sai daqui, tá?”

Não tem nada a ver com grosseria, nem com a qualidade do asfalto. Essa rua do Jaraguá (zona norte) foi agraciada pelo Banco com o nome de uma serra, na verdade “das asperezas que fica na micro-cidade gaúcha de Pinheiro Machado.

fica no Jabaquara (zona sul).

fica no Jabaquara (zona sul).

Não se encontrarão exemplares de Ouro Rublo, Grande Midas ou Picolé, muito menos A Recreativa (que é bem mais chata de fazer). As cruzadas da rua são mesmo aquelas da Idade Média. Melhor assim.

#mtosincera: essa rua é uma porcaria, não vem morar aqui não, tá? #mtofranka

#mtosincera: essa rua é uma porcaria, não vem morar aqui não, tá? #mtofranka

Quem disse que as ruas não têm sentimentos? Essa aqui fica no Jaraguá (zona norte), pertinho da Rua da Franqueza. Mas, francamente, é bem quebrada ali: ambas são vias de um conjunto habitacional da região, já bem perto da Brasilândia.

Pode ficar tranquilo, aqui não tem assalto, todo mundo fica com a porta aberta...

Pode ficar tranquilo, aqui não tem assalto, todo mundo fica com a porta aberta…

Antes fosse assim nessa ruelinha da Vila Matilde (zona leste)… na verdade, deve ter sido um positivista ou algo do gênero que loteou o bairro, já que o Bem termina na rua da Ordem e é paralela à rua Do Trabalho Da Economia.

E, como tantas, a Cordialidade fica no meio de uma quebrada, o Jardim São Luís (zona sul). Pelo street view parece ser um lugar até aprazível (pelo menos de dia…). Aliás, falando em Cordialidade…

Se tem alguém cordial aqui é o homem. O cara.

Se tem alguém cordial aqui é esse homem. O cara.

Pois é, a maneira que o Sérgio Buarque de Hollanda tentou descrever o caráter do brasileiro, nem sempre de forma positiva, sabe-se lá o motivo, batiza a ruinha da Cidade Dutra (zona sul). Muito provavelmente, foi um “jeitinho” de fazer mais uma homenagem ao escritor, que morava no Pacaembu, pertinho do estádio. Não por acaso, a praça que fica em frente à casa dele ganhou o nome de sua obra seminal, publicada em 1936:

raizesdobrasil

Quando moleque, o Chico Buarque gostava de furtar carros estacionados e dar uns rolês pelas ruas do Pacaembu, até acabar a gasolina. Tanto que ele sabe até hoje dar ligação direta. Boa parte das ruas onde Chico pilotava têm nomes de cidades do interior de São Paulo, como Itápolis e Buri, que se unem ao lado da praça. A única desalojada foi Sorocaba:

A maior de todas, como você vê pela numeração, é a Itápolis. Ela dá várias voltas até cortar o estádio do Pacaembu pelo lado direito

A maior de todas, como você vê pela numeração, é a Itápolis. Ela dá várias voltas até cortar o estádio do Pacaembu pelo lado direito

Sorocaba, aliás, nunca mais voltou a ser nome de rua (a não ser uma não-oficial no Morro Doce, quebradinha na zona norte). Já o professor Ernest Marcus, zoólogo alemão radicado no Brasil, e morto em 1968, não tomou o nome da rua por acaso. É porque ele morava lá: sua casa, aliás, era essa mesma que tem a placa pendurada… Mas se as ruas do Pacaembu, em geral, têm nomes de cidades, o contrário também acontece, a umas oito horas de distância:

Bem-vindo a Pacaembu! A cidade mais querida do Brasil tem temperatura média de 39 graus à sombra e um site bem do chambeta

Bem-vindo a Pacaembu! A cidade mais querida do Brasil tem temperatura média de 39 graus à sombra e um site oficial bem do chambeta

Essa cidadela, de apenas 12 mil habitantes, fica lá no extremo oeste do estado, mais perto do Mato Grosso do Sul do que daqui da capital. Lembro que saí um tempinho com uma menina que era da cidade vizinha (e um pouco maior), Adamantina, e ela disse que rolavam umas festinhas por lá. Na verdade, apesar de serem independentes, as cidades daquela região, como Lucélia e Lavínia acabam meio que funcionando como “bairros”, de pequenas que são (e, todas predominanemtente rurais) – é uma conurbação, como dizem os geógrafos. Boa parte delas só começou a existir porque a estrada de ferro trouxe gente para lá (história de 9 entre 10 cidades do interior de SP, cá entre nós).

Mas do que eu estava falando mesmo? Ah sim: Pacaembu, fundada em 1947, reza a lenda, tem esse nome porque, quando rolou sua emancipação de Lucélia,   os moradores começaram a brigar entre si, cada um com sua sugestão. Daí “um deputado que intermediava a conversa e tinha acabado de assistir um jogo do Corinthians no Pacaembu” (aham, naquela época ele teria levado umas 10 horas de trem pra chegar), “falou que a gritaria e a bagunça estavam parecendo a torcida no estádio”. Daí, a turma acabou gostando do nome e ficou: Pacaembu.

Galeria de ruas estranhas, apenas – 1

As ruas de São Paulo têm batismos tão sui generis que as vezes fica até difícil juntar materiais para posts temáticos como os que você vê por aqui. É que a viagem – nem sempre culpa do Banco de Nomes, as vezes são obras dos próprios moradores – é tão grande que nenhum critério é suficiente. Veja só:

A rua fica na Vila Maria (zona norte). O nome foi dado pelos próprios moradores.

A rua fica na Vila Maria (zona norte). O nome foi dado pelos próprios moradores.

A placa acima está bem ruim de ver, mas se trata do ilustríssimo Coronel Cucoque nunca pisou em nenhum quartel ou congênere simplesmente porque nunca existiu. Era apenas o pseudônimo do apresentador de um obscuro programa de rádio dos anos 1960 – segundo o colaborador do Dicionário de Ruas, na extinta Rádio Marconi. Já outros dizem que era na igualmente extinta Rádio Cometa.

Ada, na Cidade Ademar (zona sul)

Ada, na Cidade ADAmar (zona sul) KKKKK

Essa é controversa: segundo o Dicionário de Ruas, Ada é “palavra árabe que designa tanto o pagamento de uma dívida, quanto o cumprimento de um dever religioso. – Ada, na informática é linguagem de programação de alto nível. Mas acho que a explicação é mais simples: apenas um loteador querendo homenagear a mulher (ou uma loteadora querendo homenagear o marido). É que só uma quadra depois fica outra rua que “orna” com a “Ada”: a Adalberto.

O sonho de Anarello fica no Paraíso. Bonito, não?

O sonho de Anarello fica no Paraíso. Bonito, não?

Para começar a explicar o curioso nome da rua, você precisa conhecer o simpático italiano Giovanni Bruno. Garçom do famoso Gigetto, frequentado por artistas, ganhou do diretor de teatro Antunes Filho o apelido de Anarello, por causa do personagem principal do filme A Rosa Tatuada, de 1955. Logo, Bruno foi abrindo seus próprios restaurantes (um deles até pegou fogo), que foi vendendo. Até que, em 1980, realizou seu sogno, abrindo a cantina Il Sogno di Anarellono número 58 da rua Timbuí (nome de um rio no Espírito Santo). Lá, até hoje, ele atende pessoalmente os clientes e prepara pratos clássicos. Tanto carinho foi retribuído por um vereador paulistano que, em meados dos anos 80, transformou a Timbuí em Il Sogno di Anarello. Na Sogno só não vá no salão de cabeleireiro que fica no número 40, dizem que é um cenário de filme de terror.

No Carnaval, a venda de tapaxanas deve aumentar substancialmente

No Carnaval, a venda de tapaxanas deve aumentar substancialmente

Humor estilo Zorra: a gente vê por aqui. Não, Tapaxanas não são o que você está pensando. São (ou melhor, eram) uma tribo indígena já extinta que habitava as margens do rio Solimões, no Amazonas. A rua, por sua vez, fica quase dentro do parque da Cantareira, no Tremembé (zona norte).

Que legal, o pessoal da Prefeitura gosta tanto de usar o Photoshop e o Illustrator...

Que legal, o pessoal da Prefeitura gosta tanto de usar o Photoshop e o Illustrator… A rua está no Jardim Helena, zona leste.

Como você, um atento leitor, já percebeu, é claro que o Adobe não tem nada a ver com a empresa de softwares como o Photoshop. Até porque a placa é dos anos 70, mais precisamente da primeira leva do Banco de Nomes. Mas antes fosse, porque a homenagem é para um tipo de tijolo rudimentar, uma espécie de bloco de pau-a-pique, que pode ser feito até com esterco de vaca.

Fui à Vila Olímpia, bati de porta em porta e não achei o ator em nenhuma casa

Fui à Vila Olímpia, bati de porta em porta e não achei o tal ator, chatiado

Esta importante rua da Vila Olímpia já foi point dos baladeiros, em casas como a antiga Ibiza, que não foi a nossa Kiss por muito pouco. Mas garanto que ninguém sabe o motivo do nome, oficializado ainda no longínquo 1952. É que naquele tempo havia uma espécie de Retiro dos Artistascomo o carioca, justamente chamado de Casa do Ator – e que fechou ainda nos anos 50, pelo que consta. Isso num tempo em que a Vila Olímpia ainda era um pântano com cara de cidade do interior. Curiosamente, o Retiro dos Artistas carioca também fica na Rua Retiro dos Artistas. 

Uma microparalela da Jacu-Pêssego, no coração de Itaquera (parece propaganda de prédio)

Uma microparalela da Jacu-Pêssego, no coração de Itaquera (parece propaganda de prédio)

Nada a ver com o ator Paulo Gorgulho ou sua família. É pior: o Banco de Nomes achou por bem batizar uma rua com esse nome graças à outra acepção do termo Gorgulho: Detritos de rocha, ou seja, um nome diferente para cascalho. 

Mas rapaz, é uma fixação com pedra, gente...

Com certeza havia um fã de pedras na prefeitura

Como você vê pelas duas placas, a categoria de pedras moídas está muito bem representada na cidade, com a companhia da rua Brita, em Cangaíba, também na ZL. Além delas, também tem o Barão de Cascalho, mas ele existiu mesmo: foi o fundador da cidade de Cordeirópolis, no interior de São Paulo – aliás, “fundadores de cidades do interior” também são uma categoria bem grande do Banco de Nomes.

A classe média sofre mesmo: não bastam os escorchantes impostos diários, ainda "homenageiam" uma rua com um deles

A classe média sofre mesmo: não bastam os escorchantes impostos diários, ainda “homenageiam” uma rua com um deles

Isso mesmo que você leu. Uma das vertentes do Banco de Nomes, aparentemente, foi “eternizar” coisas e palavras em desuso há séculos nas coitadas das ruas. É o caso da Capitaçãoque fica no Lajeado (ZL), que nada mais era que um dos impostos que o Império cobrava dos exploradores de diamantes em Minas Gerais, nos séculos 17 e 18. Bom, pelo menos a “capitação” fica na boca do povo, assim como o…

Almotacel designa "O antigo inspetor de pesos e medidas", diz o Dicionário.

Almotacel, que designa “O antigo inspetor de pesos e medidas”, de acordo com o Dicionário. A rua está na Brasilândia (zona norte).

Na verdade, segundo consta, o almotacel, além de verificar os pesos e medidas, tinha cargos em lugares tão curiosos como a Câmara dos Vereadoresna prática sendo uma espécie de “moderador” dos vereadores. E pelo “al” do início, muito provavelmente o termo tem origem árabe. Mas já no século 19, ninguém mais precisava de almotaceis. Eles só voltariam a ser úteis a partir de 1978, quando um certo Banco de Nomes resolveu arrolar TODOS os almotaceis brasileiros e transformá-los em ruas. É, você leu certo: cerca de 100 ruas paulistanas (e eu não terminei de contar ainda), têm nomes de almotaceis, pelo simples motivo de terem existido um dia.

"Manoel Simões exerceu o ofício de carpinteiro em Conceição do Mato Dentro no Estado de Minas Gerais, na primeira metade do século XVIII. Foi almotacel do século XVI."

“Manoel Simões exerceu o ofício de carpinteiro em Conceição do Mato Dentro no Estado de Minas Gerais, na primeira metade do século XVIII. Foi almotacel do século XVI.” A rua é do Sacomã (zona sul).

Diz a lenda que é de Manoel Simões, que na verdade se chamava João Manoel Simões, a origem do termo Zé Mané, que designa o famoso ninguém. Atente para o detalhe do texto da Prefeitura na legenda da foto – que não editei. Segundo ele, Mané viveu 200 anos…

Espero voltar na semana que vem com mais nomes estranhos. Aguardem (mas sem pressa, tá?)

Galeria de tipos irrelevantes (argentinos) – 2

Para aproveitar nuestro novissimo papa hermano, vulgo Francisco, o tema da nossa galeria de tipos irrelevantes de hoje são os argentinos.

Este é um argentino

Um argentino típico

É porque, sabe-se lá por que cargas d’água, o sempre surpreendente Banco de Nomes resolveu usar algum obscuro livro da história portenha para batizar várias ruas da periferia de São Paulo. Não são tantos quantos os pedreiros mineiros do século 17 que você viu na semana passada, mas é um número considerável. São pelo menos umas 100 ruas com nomes de personalidades (?) argentinas do início do século XIX.

"Daniel Cerri: militar argentino, nasceu em 1841 e faleceu em 1914; lutou na Guerra do Paraguai e foi o primeiro governador dos Andes. Este nome foi retirado do Banco de Nomes de SEHAB-CASE." A rua está na Brasilândia, como vários outros portenhos

“Daniel Cerri: militar argentino, nasceu em 1841 e faleceu em 1914; lutou na Guerra do Paraguai e foi o primeiro governador dos Andes. Este nome foi retirado do Banco de Nomes de SEHAB-CASE.” A rua está na Brasilândia, como vários outros portenhos. Já Francisco Margall era um escritor, mas espanhol.

"Gregório Funes, Historiador argentino. Reitor da Universidade de Córdoba. Foi deputado e clérigo famoso.". A rua está no Tucuruvi.

“Gregório Funes, Historiador argentino. Reitor da Universidade de Córdoba. Foi deputado e clérigo famoso.”. A rua está no Tucuruvi.

joaodasheras_polargentino

João das Heras: político da Argentina, nasceu em 1780 e faleceu em 1861. Foi governador de Buenos Aires no período de 1824 a 1826, tendo também dirigido a Campanha do Sul do Chile. A rua está no Lajeado, ZL.

Frederico Lacroze :Célebre economista e político argentino, nascido em 1.838, levantou a economia do país, projetou a primeira linha de ônibus urbano de Buenos Aires

Frederico Lacroze :Célebre economista e político argentino, nascido em 1.838, levantou a economia do país, projetou a primeira linha de ônibus urbano de Buenos Aires. Também fica na Brasilândia.

Guillermo Correa, jornalista, jurista, professor e romancista argentino nascido em 1858, na cidade de Catamarca. Foi membro do Partido Autonomista Nacional, duas vezes governador de Catamarca, tendo também representado sua província no Congresso Nacional (1904-1908). A rua fica no Jaraguá.

Guillermo Correa, jornalista, jurista, professor e romancista argentino nascido em 1858, na cidade de Catamarca. Foi membro do Partido Autonomista Nacional, duas vezes governador de Catamarca, tendo também representado sua província no Congresso Nacional (1904-1908). A rua fica no Jaraguá.

Histórico: Esta rua foi denominada através do Decreto nº 17.825 de 11/02/1982. João Pujol: estadista argentino, nasceu em 1817 e faleceu em 1861; foi o criador do primeiro selo de seu país. Fica no Aricanduva, ZL.

Histórico: Esta rua foi denominada através do Decreto nº 17.825 de 11/02/1982. João Pujol: estadista argentino, nasceu em 1817 e faleceu em 1861; foi o criador do primeiro selo de seu país. Fica no Aricanduva, ZL.

Curiosidade: desses aí, só Frederico Lacroze é nome de algo em Buenos Aires – uma das estações do metrô. Mas há alguns famosos:

Ah vai, ele era francês, mas é como se fosse argentino... a praça fica do lado do ginásio do Ibirapuera.

Ah vai, ele era francês, mas é como se fosse argentino… a praça fica do lado do ginásio do Ibirapuera.

Deixa a argentinada saber que a Evita é só uma viela no meio de uma quebrada da Cidade Tiradentes...

Deixa a argentinada saber que a Evita é só uma viela no meio de uma quebrada da Cidade Tiradentes…

Esse quem já foi a "BsAs" conhece porque é o nome do aeroporto - justamente porque ele foi um dos pioneiros da aviação argentina. E não por acaso a rua fica no parque Edu Chaves, outro aviador.

Esse quem já foi a “BsAs” conhece porque é o nome do aeroporto – justamente porque ele foi um dos pioneiros da aviação argentina. E não por acaso a rua fica no parque Edu Chaves, outro aviador.

Além disso, um vereador sem nada o que fazer já quis trocar o nome do Minhocão para “Elevado Presidente Nestor Kirchner”. Mas o Costa e Silva não sai de lá tão cedo.

Mas aí você me pergunta: não tinha opção melhor para batizar as ruas a usar esses nomes obscuros lá de cima? Bom, espero que você nunca trabalhe numa secretaria de habitação com mais de VINTE MIL ruas para dar nome…

Zona Sul Extreme – parte 4 (final)

O Engenheiro Marsilac foi homenageado ainda vivo. Foi ele quem coordenou a construção da linha Mairinque-Santos. Morreu em 1985, quando o bairro já tinha seu nome.

O Engenheiro Marsilac foi homenageado ainda vivo. Foi ele quem coordenou a construção da linha Mairinque-Santos, isso mesmo depois de ter perdido quase toda a visão quando uma granada estourou em seu rosto, na “revolução” de 1932. Morreu em 1985, quando a região já era conhecida por seu nome faz tempo.

De volta ao Embura, o jeito é seguir a estrada Engenheiro Marsilac, que, se você conferir no mapa, passa a seguir a leste, em paralelo à linha da Mairinque-Santos. As paisagens laterais são compostas quase que apenas pelo trem e por uma ou outra construção, como as ruínas da colônia de férias da Kibon. Mas há até indústrias nas vias vicinais, como a estrada da Ponte Seca.

Andando por cima da ponte seca

Andando por cima da ponte seca

E eis que chegamos ao bairro de Engenheiro Marsilac. O nome, como já citei antes, se dá a antiga estação de mesmo nome, já demolida há muito tempo.

A entrada de Marsilac

A entrada de Engenheiro Marsilac

A população não deve passar das duas mil pessoas. O casario é bastante antigo e falta tudo por aqui. Basta dizer que, apesar das ruas do bairro terem nomes escritos nas placas, nenhuma delas é legalizada. Correspondências devem ser mandadas para um barzinho na beira da Estrada, a única via com CEP. Tratamento de esgoto é quase nulo. Pelo menos há algumas linhas de ônibus, que levam ao centro de Parelheiros – e, dali, para o centro de São Paulo, que fica a três horas dali via buzão.

Como a linha de trem deixou de levar passageiros há muito tempo, o bairro acabou se isolando – e vendo sua população se estabilizar. O lado bom foi que a maioria das vias foi pavimentada – o que hoje é bastante restringido pela legislação ambiental. Também há escola (profª Regina Maria B. de Carvalho), um ou outro comércio e um posto de saúde, além de base da PM. Aliás, segurança por ali não é um problema, apesar de Marsilac ter um grande nível de assassinatos. Segundo apurei com um policial que já trabalhou ali, este número é grande porque a zona rural é perfeita para desovar quem foi morto em áreas densamente povoadas. Tanto é que o PCC, até recentemente, mantinha um tribunal do crime por lá.

O casario de Engenheiro Marsilac

O casario de Engenheiro Marsilac. Ao fundo, a kombi do correio trazendo as correspondências. O asfalto acaba lá, também.

Aí você me pergunta: acabou? Não, não acabou. Seguindo pela estrada, que ali deixa de ser asfaltada, chega-se à Evangelista de Souza, outra estação – esta, ainda usada por funcionários da empresa que administra a linha. Um dia, segundo consta, houve um vilarejo por ali.

evangelista04

Foto da estação em 2004, roubada do site Estações Ferroviárias, de Ralph Giesbrecht.

A área da estação, assim como as diversas cachoeiras e trilhas que se entremeiam pela Serra do Mar, é bastante usada para ecoturismo e passeios de bike. Dali, a próxima estação da linha já é dentro do território de Itanhaém.

Acabou? Calma, pra quê a pressa? Originalmente, em Evangelista de Souza, havia uma bifurcação da linha para o ramal de Jurubatuba da antiga Sorocabana, que nada mais é que a linha 9 da CPTM. Esta, como você sabe, tem seu ponto final atual no Grajaú, bem antes.

O trem passou por aqui

O trem passou por aqui

Malemal encontram-se os trilhos por ali, mas a estrada que corre em paralelo à velha linha ainda está lá. Não por acaso, chama-se Estrada de Engenheiro Marsilac à Barragem, já que Barragem era, originalmente, a estação seguinte, no sentido Jurubatuba. Seguindo direto por ela, toda de terra, chega-se ao nosso já conhecido bairro da Colônia. Virando à direita um pouco antes, na Estrada da Barragem, você vai chegar a outro dos mais isolados bairros da cidade, que você já viu por aqui: o Nova América.

Todas as ruas ruas têm nomes de mortos e desaparecidos na ditadura militar. A principal rua é a Eduardo Collier Filho, de quem já falei aqui, mas há várias outras importantes. Quando passei por lá, em julho do ano passado, a rua Jane Vanine abrigava uma animada quermesse.

Este é o final da Jane Vanine com a Armando Teixeira Frutuoso

Este é o final da rua Jane Vanine Ela, assim como eu, já foi repórter de revista feminina da editora Abril. Desemboca na “rua” Armando Teixeira Frutuoso, que nem asfaltada é.

Mas ainda não chegamos onde realmente ficava a estação da Barragem. Antes, passa-se por alguns minibairros como os Jardins Represa e o Clube de Campo de São Paulo – este, um condomínio fechado. Pouco depois, chegamos ao bairro da Barragem (se não ficou bem claro, é a barragem que marca o final da represa Billings, inaugurada nos anos 30). A velha estação é lembrada pela rua Estação da Barragem, ora pois.

Tudo que está dentro das áreas de proteção ambiental tem placas explicativas.

Tudo que está dentro das áreas de proteção ambiental tem placas explicativas, como esta, na entrada do bairro Barragem.

Seguindo pela estrada da Barragem, você encontrará uma base da Polícia Ambiental e a entrada do Núcleo Curucutu. Além de base dos ecoturistas, é onde fica a aldeia indígena Tenondé-Porã, cuja vida é bem precária. Sempre se veem índios pedindo esmola ou vendendo artesanato pela estrada, à medida que a aldeia se aproxima.

A entrada do núcleo Krukutu.

A entrada do núcleo Krukutu.

Como você viu pela outra placa do lado, as propriedades rurais continuam pululando por ali. Mas, metros depois, já é São Bernardo do Campo, embora nada ali lembre você disso. Seguindo a estrada Barragem, que é mais ou menos paralela ao rio Capivari, você ainda chega à Estrada do Rio Acima que – veja só – chega àquela mesma estrada de Itaquaquecetuba que pegamos lá na Ilha do Bororé.

Você nem reparou que tinha uma estrada embaixo da rodovia, né?

Você nem reparou que tinha uma estrada embaixo da rodovia, né?

Mas, se quiser ir pela Rio Acima, depois de cruzar a rodovia dos Imigrantes, e com a paciência que passa por pegar outra balsa sobre a Billings e um bom caminho por terra, pode voltar à civilização. Mais precisamente na confluência da rodovia Anchieta com a rodovia Caminho do Mar, dentro do bairro de Riacho Grande, em São Bernardo.