Olá, leitores!
Ainda há delírios do Banco de Nomes a serem abordados, acredita? São as ruas com nomes de coisas: sobra para estátuas e prédios antigos, atrações turísticas e até… ruas de outras cidades! Vai vendo:
Sabe quem era o tal Borja Castro dessa rua de Itaquera, pertinho da avenida Águia de Haia?
Mas então, como você viu na notinha, ele era do Rio. E foi lá que ganhou sua rua, na zona portuária, entre a praça XV e a rua do Ouvidor, centro carioca. Foi na Borja Castro em que foi aberto o primeiro terreiro de umbanda do país. Mas, nos anos 50, o terreiro foi para o chão junto com o leito da Borja, que vai voltar a ver a luz do dia depois da demolição da avenida Perimetral, em 2014. Pois bem. A história chegou aos ouvidos do Banco de Nomes, que resolveu reciclar o nome numa rua paulistana (sim, a explicação oficial para o nome não é a homenagem ao sr. Borja, e sim à ex-rua do Rio). E como boa rua carioca, Borja jura que fica no subúrhrbio – e não na quebrada, irrrrmão. Ironicamente ou não, o maior empreendimento da Borja paulistana é justamente outro terreiro de umbanda. Axé!
Lá no longínquo ano de 1783, o vice-rei do Brasil (você sabia que tinha esse cargo?) resolveu dar uma ornadinha na rua das Boas-Noites, cujo nome, diz a lenda, vinha da quantidade de estabelecimentos para o entretenimento masculino que já existiam por ali (não é à toa que dizem ser a profissão mais antiga do mundo). Era o…
O Passeio (que existe até hoje), primeiro parque público ajardinado do país (que se resumia ao Rio e uns arredores naquele tempo) precisava de uns enfeites. A tarefa ficou a cargo do maior artesão daquele tempo, o…
Pra começar, o Mestre resolveu esculpir um chafariz onde cinco exemplares fêmeas de Anas querquedula jorravam água por seus bicos. Era o…
O Chafariz fez tanto sucesso que acabou transformando a rua das Boas Noites em Rua das Marrecas, nome que foi se perdendo com o tempo mas que desde os anos 60 recuperou a alcunha. As “primas” das Boas Noites, na época predominantemente de origem judaica polonesa, continuaram trampando ali, trazidas pela Zwig Migdal, a pioneira no tráfico humano (séculos antes da Lívia Marine). E, diz a lenda, foram a origem de uma palavra supercomum – isso já no século 19. É que quando os “capoeiras” e malandros vinham procurar seus serviços, elas os dispensavam dizendo que tinham uma doença. Ou melhor, “ein Kranke”, em iídiche. Daí para “ein Kranke” virar “encrenca” foi dois palitos. Mas do que estávamos falando mesmo. Ah, sim do Passeio Público e do Chafariz das Marrecas. Pois bem, o Passeio ainda tinha mais dois monumentos, um de cada lado:
O Caçador mudou-se para o Jardim Botânico do Rio. Mesmo lugar para onde foi parar sua companheira, que segundo a lenda, falava demais:
Veja as IBAGENS das estáutas:
Mas espere aí: tem mais obras do Mestre Valentim, como o
Também lá em 1783, o tal chafariz foi uma encomenda das freiras do Convento da Ajuda para abastecê-las de água, com a qual lavavam seus hábitos. Como o convento foi para o saco no começo do século 20, o chafariz foi parar no centro, na praça General Osório, onde uma maioria de vândalos nada pacífica foi destruindo o monumento, restaurado apenas em 2008. Olha ele aqui:
Completando a trilogia de chafarizes do Mestre, ainda teríamos outro, o da Pirâmide, hoje na Praça XV carioca. Mas parece que era só um “batismo repetido” do Banco de Nomes. Isso mesmo: a rua que a Prefeitura resolveu batizar como Chafariz da Pirâmide já tinha ganhado outro nome, também do Banco, e o funcionário responsável provavelmente não tinha visto. Daí, ficou o mais antigo, tão curioso quanto:
Mas não é que Javier de los Paçaros também tem a ver com tudo que falávamos aqui? É: ele era o responsável por empalhar os pássaros que ornavam o parque do Passeio. Francisco Xavier Cardoso Caldeira, afinal, foi um dos primeiros taxidermistas da história brasileira. Aí você me pergunta: se tinha o Xavier dos pássaros é porque havia o outro. Esse mesmo, o:
Evidentemente, seu Xavier das Conchas era encarregado de decorar os pavilhões do Passeio (demolidos ainda em 1817) com… conchas!
… que de trem, a nível de “locomotiva sobre trilhos” mesmo não tinha nada. Era, sim, uma espécie de grande “fábrica/entreposto” de um monte de coisas diferentes construída pelo império, os “trem”, bem ao sentido mineiro da palavra (é sério!). Foi nela que Mestre montou as estátuas – e que, anos depois, mais precisamente em 1792, os pedaços de um certo Joaquim José da Silva Xavier foram salgados e colocados em sacos de couro.