Bem-vindo a julho, um dos meses mais prolíficos em ruas paulistanas. Vai vendo:
Se você é esperto, só de saber que a rua 2 de julho está no Ipiranga deve imaginar que tem algo a ver com a independência do Brasil. Afinal, foi lá que o grito foi dado e que de suas margens plácidas o brado retumbante tocou. Pois bem: quase um ano depois do fatídico 7 de setembro de 1822, ainda tinha uma tropa militar lusitana, anti-independência, aportada em Salvador. Pois é: tinha, pois foram expulsos pelo Visconde de Pirajá (cuja rua carioca o fez virar nome de bar paulistano) e o general Labatut (que fica bem próxima à 2 de julho no Ipiranga).
Falando em independência, já vimos tantos filmes falando do 4 de julho americano que não seria nem tão estranho imaginar que a rua de fato homenageasse o Independence Day:
Mas não. Essa ruinha de uma quebrada de Itaquera, na ZL, tem esse nome por uma razão muito mais singela, segundo a Prefeitura: “4 de julho é a data do início do mutirão para colocação e guias na Rua.”. Quer dizer, a rua é nascida em 4 de julho, portanto.
Na Vila Nair, bairro do Ipiranga entre as avenidas Nazaré e Tancredo Neves, fica a 5 de julho. A Prefeitura não sabe explicar sua origem. Como o bairro é mais antigo que o Banco de Nomes e a região gosta de uma raiz histórica para batizar as vias, meu chute é o dia da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, no dia 5 de julho de 1922, uma das primeiras revoltas militares contra a República Velha. Dois anos depois, no mesmo 5 de julho, começava a Coluna Prestes.
Assim como a 23 de maio que você já viu aqui, esta artéria paulistana relembra a ~Revolução constitucionalista de 1932~, iniciada justamente no dia 9 de julho daquele ano. Os jovens paulistanos de classe média alta não gostaram dos resultados da Revolução de 1930, que acabou com a República Velha, e queriam desfazê-la na marra. Primeiro a turma saiu do Facebook e #foi para a rua no dia 23 de maio. Daí, no 9 de julho, os militares entraram no meio e o kissuco ferveu de vez. As tropas paulistas, ajudadas por uns perdidos de outros estados, entraram em guerra com as tropas federais. Morreu um monte de gente dos dois lados (quase todos também viraram ruas paulistanas) e os coxinhas não tiraram Getúlio do poder. O máximo que rendeu foi a constituição de 1934, mais abrangente que as anteriores – e que durou só três anos…
A História sempre vai rolando e uma data importante pode virar mera página de rodapé no dia seguinte. É o caso do 10 de julho de 1832, quando foi fundado o município de Santo Amaro, cuja área correspondia a quase tudo que você chama de zona sul de São Paulo, e que voltou a ser paulistana em 1935, 102 anos depois. Segundo os arquivos da Prefeitura, a rua 10 de julho ganhou o nome na década de 1940, quando já não valia nada. A lembrança foi sugestão de Plínio Schmidt (ele mesmo já nome de rua faz tempo), funcionário da ex-prefeitura santamarense.
Essa rua do Bixiga é em boa parte do seu leito imprensada pelo elevado da Ligação Leste-Oeste. E hoje, é conhecida pelas deliciosas fábricas de pão italiano. Não por acaso, uma das mais antigas é a padaria 14 de Julho, aberta em 1897 – ou seja, quando a rua já tinha esse nome. Fico no chute entre duas datas antigas, que não têm nada a ver entre si mas, sei lá: ou é a Revolução Francesa mesmo, em 1789, ou ainda o singelo aniversário de Campinas, fundada em 14 de julho de 1774. Conhecendo a história paulistana, essa acaba sendo a hipótese mais provável – embora a Prefeitura prefira ir de França, usando um texto colado da Wikipedia no seu Dicionário de Ruas.
A “aquisição” mais recente desta lista é a praça Memorial 17 de Julho, inaugurada no ano passado. A referência, claro, é ao voo JJ3054 da TAM, que, no dia 17 de julho de 2007, varou a pista do aeroporto de Congonhas e dizimou um terminal de cargas da própria TAM e um posto de gasolina – cuja área hoje corresponde à própria praça. A homenagem às 199 vítimas do acidente até que virou uma praça bem agradável (e vamos torcer para que não comece a ser depredada por uma minoria de vândalos).
Segundo a Prefeitura, o 19 de julho desta rua de Pirituba seria o “dia da Caridade”. Também é a data de nascimento de várias pessoas importantíssimas (obrigado, Wikipedia), como o tenista romeno Ilie Nastase (de 1946) e a miss Pompeia Ellen Roche (de 1979).
Essa travessa da Parada Pinto, na Cachoeirinha (zona norte) faz parte de um bairro cheio de datas. Tem a 10 de maio, a 9 de novembro… E, para cada um deles, a Prefeitura dá uma explicação diferente. Segundo eles, o dia 20 de julho é uma homenagem a Santos Dumont, nascido em 20 de julho de 1873. Além do inventor do avião, outra pessoa importantíssima nasceu num 20/07: nada mais, nada menos que Gracyanne Barbosa, de 1982. 20 de julho também é Dia do Revendedor de Posto de Gasolina (Frentista) – e também Dia do Amigo. ❤ !
É assim que a Prefeitura explica o nome dessa ruinha do Sacomã, quase na fronteira com São Caetano. Pode ser também a criação do Ministério da Saúde, em 25 de julho de 1953. Ou ainda, o dia do escritor, internacional da mulher negra, do colono, de Santiago de Compostela, etc, etc. Escolha o seu!
Pra fechar, mais uma da linha lutas. Julho de 1982, na mesma região do Capão Redondo onde ficam a Maio e a Junho de 1985, é a data em que a área foi legalizada pela Prefeitura. Justo. E chega! Até o próximo post!