Muito boa tarde pro senhor, pra senhora, pro amigo, pra amiga. Como já é de costume nesse singelo blog, todo primeiro dia do mês é dia de que rua é hoje?
Segundo a Prefeitura, o dia 1 de agosto da rua é o Dia do Selo, homenagem a um hobby cada vez mais raro, a filatelia. Além disso, dia 01/08 também é o aniversário de Piracicaba (de 1767) e Bauru (1896). Vinte anos atrás, em 1993, entrava em vigor a moeda-relâmpago brasileira: o cruzeiro real, que durou só 11 meses.
Mais um batismo sucinto, segundo a Prefeitura. O 5 de agosto dessa ruela de Itaquera, próxima à Jacu-Pêssego, é nada mais, nada menos, que o niver do grande cientista Oswaldo Cruz, nascido em 1872. Além do Oswaldão, também é dia da Tia Celina Nathalia Thimberg (de 1929) e do glorioso futebolista português Amoreirinha (os lusitanos adoram esses nomes, né?)
… que o 11 de agosto (ou melhor, XI de agosto, como eles preferem) nada mais é que o dia do advogado, comemorado a partir da data de fundação dos cursos de Direito no país, em 1827. Naquele dia, Dom Pedro I autorizou a fundação das Arcadas do Largo São Francisco (de onde a rua é bem próxima) e da Faculdade de Direito de Olinda (atual UFPE). Justamente por isso, a ala douchebag dos adevogado (grandes m. que você é adevogado…), dos uspianos aos FMUanos e UNIPanos (futuros paralegais nos escritórios), se acha no direito de comer de graça nos restaurantes nesse dia, usando do seu animus jocandi. É o tal pendura, sobre o qual eles têm até jurisprudência, veja só.
Uma rua que comemora o dia do economista, 13 de agosto, só pode mesmo ser bem econômica, também: começa na avenida Sapopemba e termina menos de 150 metros depois, sem saída. Num 13/08 também, o mongol Tokhtamysh pôs fogo em Moscou, em 1382. Uns 700 anos depois, em 1946, foi fundada a minha nada querida PUC-SP.
Falei até o nome do bairro porque é realmente por causa dele que essa travessa da avenida Aleixos Jafet tem o nome. É que no longínquo dia 21 de agosto de 1983, onde hoje está a rua, foi rezada a primeira missa do Jardim Ipanema, pelo padre Anchieta Alcides Pinto da Silva, segundo a Prefeitura. Enquanto os ipanemenses rezavam, se você tivesse parado numa banca e comprado o Estadão daquele dia, um domingo, teria conhecido o “cróton, um arbusto de fácil cultivo, resistente a doenças e pragas”, no Suplemento Feminino. Já no caderno de Cidades, descobriria que o mistério das 73 mortes de jovens no extremo sul de São Paulo estava prestes a ser desvendado – seria nada mais, nada menos que a descoberta do Cabo Bruno, assassinado em 2012. Também dava para comprar uma verdadeira máquina: o DISMAC D-8001, por apenas 920 mil cruzeiros. Onde? No Mappin, claro!
Nada como um dia após o outro:

No coração da zona norte, a Vila Dionísia, perto da Parada Pinto, na Cachoeirinha. Repare que a Prefeitura pôs placas novas mas manteve o acento no agôsto (que não é mais usado desde 1971)
A 22 de Agosto, travessa da Parada Pinto, é a maior rua do bairro da Vila Dionísia. E, segundo a Prefeitura, é porque o dia 22/08 é o dia do folclore. Com certeza não tem nada a ver com a anexação da Coreia pelo Japão, em 22/08/1910, que quase extinguiu a cultura (e o folclore) coreano. Talvez seja então por causa do folclórico humorista Ary Toledo, nascido em 22/08/1937, 41 anos antes do sem-graça Oscar Filho (de 1978).
O Google Maps até hoje não catalogou a avenida 24 de Agosto, mas eu juro que ela existe. Passei por lá quando fui com o fotógrafo preparar esse material para o vereador. O batismo veio junto com outras dezenas, em 2002, quando o conjunto habitacional Fazenda do Carmo foi legalizado. A maioria das ruas acabou ganhando nomes de artistas mortos nos anos 90, como Paulo Gracindo (a maior rua), Luiz Carlos Arutin ou mesmo Renato Russo. Numa cidade com tanta gente irrelevante dando nome à rua, é até um alívio ver pessoas realmente importantes nas vias. Mas não é o caso da avenida 24/08, que não se sabe a razão. Quem sabe não é o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954? Numa cidade que se orgulha de 9 de Julho, tudo é possível, né?
Vai vendo.
Mais uma daquelas ruelas estreitas e sem saída – e sem origem batismo definida. Segundo a Prefeitura, a alusão é para o fato do dia 27 de agosto ser o dia do psicólogo. É que, neste dia, em 1964, a profissão foi legalizada no Brasil. Uns 2400 anos antes, em 551 a.c., nascia o filósofo chinês Confúcio (agora, como eles sabem dessas datas com tanto detalhamento, sei lá…) – exatos 1552 anos antes da gloriosa Sandra de Sá (de 1953).
Tá quase acabando o mês, mas ainda tem coisa:
Não errei a imagem: é que a travessa Elegia de Agosto nada mais é que a “rua” deste condomínio da ZL, embora o nome nem ao menos seja utilizado pelos moradores do Zezinho Osti, oficialmente no número 51 da rua Ribeira do Pombal. Elegia é um dos últimos poemas de Manuel Bandeira, escrito em 1961, que você pode ouvir na voz desse fera aqui. Poemas “manuelinos” são uma preferência especial da Prefeitura para dar nome a travessas e vilas de condomínios fechados. É também o caso de Evocação do Recife, nome oficial de uma vilinha na rua Tanabi, em Perdizes.
Já outra existe de verdade:
E como a 21/08, também é uma travessa da Alexios Jafet. Quebrada define. Já o Soneto de Agosto é obra de Vinícius de Moraes. O ~poetinha~ tem várias obras nomeando ruas paulistanas. Tanto que logo vai merecer um post à parte.
Mas infinita enquanto dura – o que não é o caso dessa travessinha na quebradíssima do Capão Redondo, que não chega a ter 50 metros de extensão, ainda que tenha o nome de rua (isso também é bem comum em SP, rende até outro post).
Mas não agora, claro! Por hoje chega.