Hoje é dia de falar de mais ruas estranhas que, de tão estranhas que são, mal cabem em algum critério. Por isso inventei um: as ruas “das” coisas. Tem cada uma… Claro, aqui não vou falar de “rua das amoreiras”, “dos pinheiros” (embora nessa não tenha nenhum pinheiro plantado), etc, que a ideia já tá meio que na cara. Mas vamos lá:
I ❤ TATUAPÉ S2 S2 S2 S2 S2
Essa ruela, travessa da rua Emílio Mallet, foi aberta nos anos 60 e foi chamada de “rua da Amizade”. Em 1990, mesma época em que a Prefeitura fez um novo levantamento de ruas repetidas ou mal-batizadas (de onde vieram as Borboletas, lembra?), ela ganhou o nome de Campeadores (que, assim como as Butterflies, também é uma obscura obra de música erudita). Mas veja só: mesmo com o nome até “normal” o pessoal tatuapense botou os campeadores pra correr! Daí, como já existe uma travessa da Amizade no Jaçanã, resolveram o problema botando o aposto “do tatuapé”. E os campeadores?
achoooou!!!
Eles foram exilados na Vila Emília, bairro do Sacomã (zona sul). Fazendo esquina, fica a Cantiga Ingênua, outra obscurantíssima peça para piano de uma certa Adelaide Pereira da Silva.
Contrariando o que diz Galvão Bueno, a Curva é Curva mesmo, não é reta
Essa ruinha, na Vila Guilherme (ZN), tem um grande atrativo:
A curva da rua curva é mais curva que a curva da rua reta (Paulo Leminski)
Sim, uma curva. E ponto final. Nem o Dicionário sabe explicar, mas é um alento saber que a rua curva é curva (em U, para ser mais exato).
Fica na Casa Verde (zona norte).
E a rua da Divisa? Pode botar no mapa: ela não divide nada com lugar nenhum, pelo menos nos dias de hoje. O Dicionário também não tem explicação. Alguém sabe? Mistério…’
“Olha, quem entra aqui nessa rua é no mínimo um imbecil, mal-educado. Olha, sai daqui, tá?”
Não tem nada a ver com grosseria, nem com a qualidade do asfalto. Essa rua do Jaraguá (zona norte) foi agraciada pelo Banco com o nome de uma serra, na verdade “das asperezas“ que fica na micro-cidade gaúcha de Pinheiro Machado.
fica no Jabaquara (zona sul).
Não se encontrarão exemplares de Ouro Rublo, Grande Midas ou Picolé, muito menos A Recreativa (que é bem mais chata de fazer). As cruzadas da rua são mesmo aquelas da Idade Média. Melhor assim.
#mtosincera: essa rua é uma porcaria, não vem morar aqui não, tá? #mtofranka
Quem disse que as ruas não têm sentimentos? Essa aqui fica no Jaraguá (zona norte), pertinho da Rua da Franqueza. Mas, francamente, é bem quebrada ali: ambas são vias de um conjunto habitacional da região, já bem perto da Brasilândia.
Pode ficar tranquilo, aqui não tem assalto, todo mundo fica com a porta aberta…
Antes fosse assim nessa ruelinha da Vila Matilde (zona leste)… na verdade, deve ter sido um positivista ou algo do gênero que loteou o bairro, já que o Bem termina na rua da Ordem e é paralela à rua Do Trabalho e Da Economia.
E, como tantas, a Cordialidade fica no meio de uma quebrada, o Jardim São Luís (zona sul). Pelo street view parece ser um lugar até aprazível (pelo menos de dia…). Aliás, falando em Cordialidade…
Se tem alguém cordial aqui é esse homem. O cara.
Pois é, a maneira que o Sérgio Buarque de Hollanda tentou descrever o caráter do brasileiro, nem sempre de forma positiva, sabe-se lá o motivo, batiza a ruinha da Cidade Dutra (zona sul). Muito provavelmente, foi um “jeitinho” de fazer mais uma homenagem ao escritor, que morava no Pacaembu, pertinho do estádio. Não por acaso, a praça que fica em frente à casa dele ganhou o nome de sua obra seminal, publicada em 1936:
Quando moleque, o Chico Buarque gostava de furtar carros estacionados e dar uns rolês pelas ruas do Pacaembu, até acabar a gasolina. Tanto que ele sabe até hoje dar ligação direta. Boa parte das ruas onde Chico pilotava têm nomes de cidades do interior de São Paulo, como Itápolis e Buri, que se unem ao lado da praça. A única desalojada foi Sorocaba:
A maior de todas, como você vê pela numeração, é a Itápolis. Ela dá várias voltas até cortar o estádio do Pacaembu pelo lado direito
Sorocaba, aliás, nunca mais voltou a ser nome de rua (a não ser uma não-oficial no Morro Doce, quebradinha na zona norte). Já o professor Ernest Marcus, zoólogo alemão radicado no Brasil, e morto em 1968, não tomou o nome da rua por acaso. É porque ele morava lá: sua casa, aliás, era essa mesma que tem a placa pendurada… Mas se as ruas do Pacaembu, em geral, têm nomes de cidades, o contrário também acontece, a umas oito horas de distância:
Essa cidadela, de apenas 12 mil habitantes, fica lá no extremo oeste do estado, mais perto do Mato Grosso do Sul do que daqui da capital. Lembro que saí um tempinho com uma menina que era da cidade vizinha (e um pouco maior), Adamantina, e ela disse que rolavam umas festinhas por lá. Na verdade, apesar de serem independentes, as cidades daquela região, como Lucélia e Lavínia acabam meio que funcionando como “bairros”, de pequenas que são (e, todas predominanemtente rurais) – é uma conurbação, como dizem os geógrafos. Boa parte delas só começou a existir porque a estrada de ferro trouxe gente para lá (história de 9 entre 10 cidades do interior de SP, cá entre nós).
Mas do que eu estava falando mesmo? Ah sim: Pacaembu, fundada em 1947, reza a lenda, tem esse nome porque, quando rolou sua emancipação de Lucélia, os moradores começaram a brigar entre si, cada um com sua sugestão. Daí “um deputado que intermediava a conversa e tinha acabado de assistir um jogo do Corinthians no Pacaembu” (aham, naquela época ele teria levado umas 10 horas de trem pra chegar), “falou que a gritaria e a bagunça estavam parecendo a torcida no estádio”. Daí, a turma acabou gostando do nome e ficou: Pacaembu.